quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Viuvez, morte e depressão do idoso: uma revisão de literatura

Envelhecer é fato inevitável no curso da vida, pois inicia já com o nascimento e estende-se ao longo dos anos. Independentemente do desejo ou não de ficar velho, esse processo faz parte do ciclo vital, seguindo-se ao longo do tempo e findando com a morte. A velhice traz consigo inúmeras alterações fisiológicas e comportamentais, mas o acontecimento da perda do parceiro nessa fase de vida acresce mais uma fração nessa escala de modificações (BALDIN e FORTE, 2008). Durante esse processo de envelhecimento, existem algum processos sociais, os quais os seres humanos estão sujeitos, dentre eles em grande parte está a formação familiar.
A instituição familiar está presente na sociedade desde as primeiras organizações humanas. Este fato pode ser identificado em livros antigos como a Bíblia que fala sobre a Sagrada Família. A Igreja considera a família como uma instituição permeada por valores e princípios, unidos por laços socialmente reconhecidos, que influenciaram e que ainda influenciam muitas pessoas e segmentos da sociedade; e o matrimônio, como um sacramento que exerce grande poder sobre as pessoas (TORRÊS, 2006). Para Marodin (1997), nessa sociedade de valores patriarcais, os papéis de gêneros colocam o homem em uma posição dominante e, a mulher, em posição subordinada, na qual a velhice aflora tal situação imposta. O envelhecimento tem como características ditas como “normais” ou relevantes pela sociedade, dentre elas estão as limitações físicas, perdas cognitivas, sintomas depressivos, declínio sensorial, acidentes e isolamento social. Entretanto, tem crescido o interesse em estabelecer quais os fatores que, isolada ou conjuntamente, melhor explicam o risco que um idoso tem de morrer em curto prazo, uma noção útil do ponto de vista epidemiológico e clínico. Epistemologicamente a morte vem associada com a doença física, numa concepção, em geral válida, de que as pessoas doentes morrem mais. A idade avançada traz consigo a aproximação da morte. Com o aumento dos anos de vida, a finitude é inevitável, o que se torna mais contundente com a chegada da velhice e é reforçado pela perda de pessoas próximas, como familiares, amigos (GOLDIN, 2002). Entretanto, um dos fatores que pode levar o idoso ate a morte sem doenças crônicas ou agudas prévias, pode ser a viuvez, que é definida pelos dicionários da língua portuguesa apresentam o conceito de viuvez com ênfase na solidão, desconsolo, desamparo e privação (TERSARIOL, 2000; LUFT, 2001; FERREIRA, 1999). Esta, encontra-se presente em todos os momentos de nossas vidas, desde que existam casais. Na sociedade, com a morte do companheiro, a mulher ou o homem adquire uma nova identidade social e um novo estado civil – a de viúvo ou viúva. (TORRÊS, 2006) que vem associada da depressão e como conseqüência a morte.
Dentre os fatores de risco psicossocial na depressão do idoso, segundo Araújo (2006), seriam: Morte do cônjuge ou ser querido (risco: maior no primeiro ano); Enfermidade médica ou cirúrgica. Baixa autopercepção da saúde; Incapacidade e perda de funcionalidade; Escasso suporte social; Isolamento social; Solidão; Baixa qualidade de vida; Incremento do uso dos serviços de saúde; Deterioro cognitivo; Risco de cronicidade; Maior risco de evento vascular e de mortalidade; Risco da perda funcional e de incapacidade; Alto risco de suicídio.
Segundo Gil et. al. (2004) os transtornos depressivos e ansiosos constituem os transtornos psiquiátricos mais freqüentes no idoso, e quase sempre dão lugar a conseqüências graves neste grupo etário. No início deste século, a Organização Mundial da Saúde alertava sobre os riscos que podiam apresentar os transtornos psiquiátricos como causa da falta de capacidade, e colocava uma ênfase especial nos perigos que podia apresentar a depressão e a ansiedade em populações frágeis, como os idosos. Só uma de cada três pessoas com depressão recebe um diagnóstico e tratamento adequado, e existem indícios bem fundamentados de que esta proporção é menor no caso de pessoas mais velhas. Por outro lado, as conseqüências da depressão não tratada são mais graves entre os idosos, tanto pelo deterioro funcional como pelo aumento da mortalidade, devido, em parte, ao maior risco de suicídio nos idosos.(ARAÚJO, 2006) Releva-se ainda no presente estudo, um fator anexo ao fato de envelhecer, que e determinado como suicídio, que tem seu aumento aos 65 anos, mesmo havendo uma diminuição em relação a outras décadas, ainda seguem sendo desproporcionalmente altas. O homem de 75 anos ou mais representa o maior risco de suicídio por grupo de idades. Em geral, a incidência de suicídio é maior nos homens que nas mulheres, mas esta diferença é menos marcada nos idosos em comparação à população jovem. É uma afirmação clássica que nas mulheres são mais freqüentes a tentativa consumada de suicídio, mas esta norma tampouco parece válida em pacientes mais velhos. A relação tentativa de suicídio e suicídios consumados é similar neste grupo de idade. O idoso que deseja morrer e escolhe o suicídio acaba planejando sua morte paulatinamente e não o faz impulsivamente, sendo muito menos freqüente que utilize a forma autolítica como uma forma de pressão, uma chantagem emocional ou uma chamada de atenção a sua volta. Papaléo (1996) aponta que existem diversos estudos sobre a questão e comenta que ao enviuvarem-se, as pessoas buscam por atendimento médico, internações em asilos e hospitais assim como também cresce o índice de mortalidade por doenças. Entretanto, em nossa cultura é característico que a morte seja excluída dos nossos pensamentos pelo maior tempo possível. Para Papaléo (1996) as pessoas negam-se em falar sobre esse acontecimento, temendo que aconteça principalmente no seu ambiente familiar, sejam eles mais jovens ou mais velhos – tanto o próprio esposo ou quanto a esposa. Assim sendo, a viuvez é o “estado de uma pessoa depois da morte de seu cônjuge”, e velhice relaciona-se “mas representada de formas diferentes de acordo com a cultura a qual o casal está inserido. A presença do luto na vida do ser humano é uma coisa inevitável, torna-se necessário, porém, aceitar a morte do companheiro, ainda que a saudade se torne uma constante, uma vez que permanecem as memórias inesquecíveis que ajudam a refazer, a cada dia a vida de cada um. Esse é o processo da evolução humana e também o da natureza. Viver, aliás, consiste em lidar com perdas e ganhos, respirar fundo e buscar o equilíbrio” (Dornelles, 2003, p.410).
Bibliografia


BALDIN, C.B, FORTES; Viuvez feminina: a fala de um grupo de idosas, RBCEH, Passo Fundo, v. 5, n. 1, p. 43-54, jan./jun. 2008

TÔRRES, E.M.; A Viuvez na Vida dos Idosos, Salvador. 2006

MARODIN M. As relações entre o homem e a mulher na atualidade. In: STREY, M.N(org) Mulher, Estudos de Gênero. São Leopoldo. Ed Usinos, 148p. 1997.


LUFT, C. P. Minidicionário Luft. 20. ed. São Paulo: Ática, 2001.

FERREIRA, A. B. H. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

ARAUJO S.S.C. et.al., Suporte social, promoção de saúde e saúde bucal na população idosa no Brasil , Interface, v.10, n.19, jan/jun, 2006

GIL, PEDRO et. al., Sociedad Española de Geriatría y Gerontología, Madrid, 2004.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília: Organização Pan-Americana de Saúde, 2005.


PAPALÉO-NETTO, M.; PONTE, J. R. Envelhecimento: Desafio na Transição do Século. In: PAPALÉO-NETTO, M. (Ed.). Gerontologia. São Paulo, Rio de Janeiro: Ed. Atheneu, 1996. p.3-12.

DORNELLES B, TERRA NL. (org). Envelhecimento bem sucedido: Programa Geron, PUCRS, 2 ed., Porto Alegre: Edipucrs, 536p. 2003.

Nenhum comentário: