quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Viuvez, morte e depressão do idoso: uma revisão de literatura

Envelhecer é fato inevitável no curso da vida, pois inicia já com o nascimento e estende-se ao longo dos anos. Independentemente do desejo ou não de ficar velho, esse processo faz parte do ciclo vital, seguindo-se ao longo do tempo e findando com a morte. A velhice traz consigo inúmeras alterações fisiológicas e comportamentais, mas o acontecimento da perda do parceiro nessa fase de vida acresce mais uma fração nessa escala de modificações (BALDIN e FORTE, 2008). Durante esse processo de envelhecimento, existem algum processos sociais, os quais os seres humanos estão sujeitos, dentre eles em grande parte está a formação familiar.
A instituição familiar está presente na sociedade desde as primeiras organizações humanas. Este fato pode ser identificado em livros antigos como a Bíblia que fala sobre a Sagrada Família. A Igreja considera a família como uma instituição permeada por valores e princípios, unidos por laços socialmente reconhecidos, que influenciaram e que ainda influenciam muitas pessoas e segmentos da sociedade; e o matrimônio, como um sacramento que exerce grande poder sobre as pessoas (TORRÊS, 2006). Para Marodin (1997), nessa sociedade de valores patriarcais, os papéis de gêneros colocam o homem em uma posição dominante e, a mulher, em posição subordinada, na qual a velhice aflora tal situação imposta. O envelhecimento tem como características ditas como “normais” ou relevantes pela sociedade, dentre elas estão as limitações físicas, perdas cognitivas, sintomas depressivos, declínio sensorial, acidentes e isolamento social. Entretanto, tem crescido o interesse em estabelecer quais os fatores que, isolada ou conjuntamente, melhor explicam o risco que um idoso tem de morrer em curto prazo, uma noção útil do ponto de vista epidemiológico e clínico. Epistemologicamente a morte vem associada com a doença física, numa concepção, em geral válida, de que as pessoas doentes morrem mais. A idade avançada traz consigo a aproximação da morte. Com o aumento dos anos de vida, a finitude é inevitável, o que se torna mais contundente com a chegada da velhice e é reforçado pela perda de pessoas próximas, como familiares, amigos (GOLDIN, 2002). Entretanto, um dos fatores que pode levar o idoso ate a morte sem doenças crônicas ou agudas prévias, pode ser a viuvez, que é definida pelos dicionários da língua portuguesa apresentam o conceito de viuvez com ênfase na solidão, desconsolo, desamparo e privação (TERSARIOL, 2000; LUFT, 2001; FERREIRA, 1999). Esta, encontra-se presente em todos os momentos de nossas vidas, desde que existam casais. Na sociedade, com a morte do companheiro, a mulher ou o homem adquire uma nova identidade social e um novo estado civil – a de viúvo ou viúva. (TORRÊS, 2006) que vem associada da depressão e como conseqüência a morte.
Dentre os fatores de risco psicossocial na depressão do idoso, segundo Araújo (2006), seriam: Morte do cônjuge ou ser querido (risco: maior no primeiro ano); Enfermidade médica ou cirúrgica. Baixa autopercepção da saúde; Incapacidade e perda de funcionalidade; Escasso suporte social; Isolamento social; Solidão; Baixa qualidade de vida; Incremento do uso dos serviços de saúde; Deterioro cognitivo; Risco de cronicidade; Maior risco de evento vascular e de mortalidade; Risco da perda funcional e de incapacidade; Alto risco de suicídio.
Segundo Gil et. al. (2004) os transtornos depressivos e ansiosos constituem os transtornos psiquiátricos mais freqüentes no idoso, e quase sempre dão lugar a conseqüências graves neste grupo etário. No início deste século, a Organização Mundial da Saúde alertava sobre os riscos que podiam apresentar os transtornos psiquiátricos como causa da falta de capacidade, e colocava uma ênfase especial nos perigos que podia apresentar a depressão e a ansiedade em populações frágeis, como os idosos. Só uma de cada três pessoas com depressão recebe um diagnóstico e tratamento adequado, e existem indícios bem fundamentados de que esta proporção é menor no caso de pessoas mais velhas. Por outro lado, as conseqüências da depressão não tratada são mais graves entre os idosos, tanto pelo deterioro funcional como pelo aumento da mortalidade, devido, em parte, ao maior risco de suicídio nos idosos.(ARAÚJO, 2006) Releva-se ainda no presente estudo, um fator anexo ao fato de envelhecer, que e determinado como suicídio, que tem seu aumento aos 65 anos, mesmo havendo uma diminuição em relação a outras décadas, ainda seguem sendo desproporcionalmente altas. O homem de 75 anos ou mais representa o maior risco de suicídio por grupo de idades. Em geral, a incidência de suicídio é maior nos homens que nas mulheres, mas esta diferença é menos marcada nos idosos em comparação à população jovem. É uma afirmação clássica que nas mulheres são mais freqüentes a tentativa consumada de suicídio, mas esta norma tampouco parece válida em pacientes mais velhos. A relação tentativa de suicídio e suicídios consumados é similar neste grupo de idade. O idoso que deseja morrer e escolhe o suicídio acaba planejando sua morte paulatinamente e não o faz impulsivamente, sendo muito menos freqüente que utilize a forma autolítica como uma forma de pressão, uma chantagem emocional ou uma chamada de atenção a sua volta. Papaléo (1996) aponta que existem diversos estudos sobre a questão e comenta que ao enviuvarem-se, as pessoas buscam por atendimento médico, internações em asilos e hospitais assim como também cresce o índice de mortalidade por doenças. Entretanto, em nossa cultura é característico que a morte seja excluída dos nossos pensamentos pelo maior tempo possível. Para Papaléo (1996) as pessoas negam-se em falar sobre esse acontecimento, temendo que aconteça principalmente no seu ambiente familiar, sejam eles mais jovens ou mais velhos – tanto o próprio esposo ou quanto a esposa. Assim sendo, a viuvez é o “estado de uma pessoa depois da morte de seu cônjuge”, e velhice relaciona-se “mas representada de formas diferentes de acordo com a cultura a qual o casal está inserido. A presença do luto na vida do ser humano é uma coisa inevitável, torna-se necessário, porém, aceitar a morte do companheiro, ainda que a saudade se torne uma constante, uma vez que permanecem as memórias inesquecíveis que ajudam a refazer, a cada dia a vida de cada um. Esse é o processo da evolução humana e também o da natureza. Viver, aliás, consiste em lidar com perdas e ganhos, respirar fundo e buscar o equilíbrio” (Dornelles, 2003, p.410).
Bibliografia


BALDIN, C.B, FORTES; Viuvez feminina: a fala de um grupo de idosas, RBCEH, Passo Fundo, v. 5, n. 1, p. 43-54, jan./jun. 2008

TÔRRES, E.M.; A Viuvez na Vida dos Idosos, Salvador. 2006

MARODIN M. As relações entre o homem e a mulher na atualidade. In: STREY, M.N(org) Mulher, Estudos de Gênero. São Leopoldo. Ed Usinos, 148p. 1997.


LUFT, C. P. Minidicionário Luft. 20. ed. São Paulo: Ática, 2001.

FERREIRA, A. B. H. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

ARAUJO S.S.C. et.al., Suporte social, promoção de saúde e saúde bucal na população idosa no Brasil , Interface, v.10, n.19, jan/jun, 2006

GIL, PEDRO et. al., Sociedad Española de Geriatría y Gerontología, Madrid, 2004.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília: Organização Pan-Americana de Saúde, 2005.


PAPALÉO-NETTO, M.; PONTE, J. R. Envelhecimento: Desafio na Transição do Século. In: PAPALÉO-NETTO, M. (Ed.). Gerontologia. São Paulo, Rio de Janeiro: Ed. Atheneu, 1996. p.3-12.

DORNELLES B, TERRA NL. (org). Envelhecimento bem sucedido: Programa Geron, PUCRS, 2 ed., Porto Alegre: Edipucrs, 536p. 2003.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Institucionalização do idoso: identidade e realidade

Institucionalização do idoso: identidade e realidade

Introdução

A decisão de morar em uma Instituição de Longa Permanencia (ILP) nem sempre parte do proprio idoso e é uma alternativa questionada por eles pela própria história de criação dessas instituições. Inicialmente criadas para abrigar pessoas pobres, muito dependentes ou desabrigados incluindo crianças, doentes mentais e idosos.
A decisão de internar o idoso numa ILP geralmente se sustenta como uma alternativa em determinadas situações como a ausência temporária de cuidador domiciliar, estágios terminais de doença, alto grau de dependência ou mesmo, a necessidade de cuidados de reabilitação.
Na maioria das vezes a institucionalização está relacionada ao grau de dependência do idoso ou da condição financeira dele e dos familiares. Uma outra parcela, mora sozinha e ao iniciar dependência são encaminhados para estas instituições pelos vizinhos ou pelo serviço social local.
Então, considerando que uma parcela da população idosa poderá apresentar alterações em várias dimensões como: biológica, funcional, psicológica, cognitiva, familiar, social, física e financeira as modalidades de assistência devem ser consideradas incluindo a Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI).
O objetivo deste trabalho é estudar as ILPIs e sua organização como uma das modalidades de assistência para idosos

Instituição de Longa Permanência para Idosos : modalidade de assistência

A parcela da população idosa que mais cresce é a de 80 anos e mais, representando hoje 2,4 milhões de pessoas no Brasil, conforme dados do IBGE (2007). E essa é a população que pode apresentar o comprometimento da capacidade funcional e necessitar da ILPI, como local para receber a assistência.
As ILPI são instituições governamentais ou não-governamentais, de caráter residencial, destinada a domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condições de liberdade e dignidade e cidadania (BRASIL, 2005).
As instituições funcionam atualmente como estruturas constrangedoras, apresentando critérios padronizados, sem expressão individual com grande risco para despersonalização do individuo. O rompimento com a estrutura familiar e social é brusco sem preparação do idoso para esta nova etapa e muitas vezes ocorre de forma enganosa. O idoso é afastado do convívio social e familiar. Falta orientação técnica aos trabalhadores, muitas vezes voluntários; nem sempre há planejamento do tratamento e registro dos cuidados propostos; não há evolução, e nem avaliação regular do idoso que necessita de cuidados especiais.
Pela Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 283/2005 as ILPIs devem se organizar de acordo com o grau de dependência dos idosos. Quanto maior a dependência e a necessidade de cuidados especiais, maior a necessidade de profissionais especializados.
O Regulamento Técnico para o Funcionamento das Instituições de Longa Permanência para Idosos – RDC n.° 283, de 26 de setembro de 2005 e o Estatudo do idoso de 01 de outubro de 2003, abordam as propostas de regularização para o funcionamento das ILPIs, com critérios, parâmetros e recursos necessários para o seu bom funcionamento, que devem ser atendidos sob pena de fechamento, de acordo com a fiscalização pela Agência de Vigilância Sanitária.
A institucionalização do idoso em consonância com as políticas de assistência prevêem um estímulo para o autocuidado, valorizando-o e melhorando a sua qualidade de vida, ainda que fora do seu ambiente familiar. É preciso garantir a eles privacidade, decisão, autonomia, orientação espacial, segurança, estimulação.
As ILPIs são moradias especializadas, que integram um sistema continuo de cuidados e devem se organizar tendo em vista a satisfação de múltiplas necessidades que os idosos apresentam como as de caráter emocional, material e espiritual para uma vida satisfatória.
Os fatores que tem levado as pessoas a recorrerem a esta modalidade de assistência são em decorrência de situações como: idosos que moram em local com situação precária e maus-tratos que comprometem o bem-estar e a vida; que possuem família disfuncional sem afeto e disponibilidade emocional; que possuem a famlia com indisponibilidade física, a de filho único, por exemplo; sem condições materiais, financeiras e sem o suporte do Estado; desenvolvimento de doenças incapacitantes e as demências tornando dificil a tarefa de cuidar e ainda os idosos sem familiares.
Cabe a equipe e aos gestores, manter alguns princípios para a assistencia humanizada como: tratar os idosos com dignidade e respeito, permitir guarda e uso de objetos pessoais, possibilitar liberdade na interação social, respeitar a prática religiosa individual, favorecer a privacidade, garantir a preservação da identidade da pessoa idosa e visar o seu continuo desenvolvimento pessoal.


Considerações Finais

O que se espera é que essas instituições sejam realmente uma moradia coletiva onde esses idosos com dependência ou não, tenham seus direitos garantidos, preservando sua autonomia e identidade e não sejam um depósito de pessoas aguardando a vida se acabar.
Nos estudos da gerontologia as Instituições de Longa Permanência para Idosos devem procurar ser uma residência, mostrando, tanto na aparência física quanto em toda a sua programação, situações e detalhes que lembrem uma casa, uma moradia, a vida numa família coletiva. Isto é, acolher e manter os idosos com condições de decisão e autonomia, mesmo respeitando as regras necessárias a um grupo de pessoas que compartilham o mesmo ambiente.

Referências

BORN, T.; BOECHAT, N. S., A qualidade dos cuidados ao idoso institucionalizado. In: FREITAS et al. Tratadode Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006

BRASIL, Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741 de 1º de outtubro de 2003

BRASIL, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Regulamento Técnico que define normas de funcionamento para as Instituições de Longa Permanência para Idosos. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC 283, 2005 set 26

DIOGO, M. J. D., Modalidades de assistência ao Idoso e àFamília: Impacto sobre a qualidade de Vida. In: FREITAS et al. Tratadode Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006

FRAGOSO, V. Humanização dos cuidados a prestar ao idoso institucionalizado. Revista IGT na Rede, v. 5, n° 8, 2008. Disponível em: < id="1053&article=" mode="pdf"> Acesso: 01 de outubro de 2008

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Morte: A dor do Cuidador

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos vem aumentando a preocupação de profissionais brasileiros de gerontologia para com o bem-estar físico e psicológico de familiares que cuidam de idosos fragilizados e de alta dependência. Cuidar de um idoso fragilizado pode ser considerado um papel normativo ou esperado na vida de um cuidador, na medida em que ele o exerce em virtude de expectativas sociais baseadas em relações de parentesco, de gênero e idade, expectativas essas típicas de seu grupo social1.
Assim como o cuidador familiar, o profissional de saúde, enquanto cuidador, é um profissional também está sob constante tensão. Seu foco de atenção objeto de trabalho é uma pessoa doente, alguém atingido na integridade física, psíquica e social; alguém que expressa sofrimento, que corre, muita vezes, risco de morte e toda mobilização que isso provoca no próprio doente, nos amigos e familiares que o cerca, exigindo do profissional resultados quantas vezes superiores à possibilidade humana de alcançá-los2.
A morte vista como o desconhecido traz à tona a sensação do medo, o mistério, o não familiar, que, é também associada a um certo fascínio, de que o desconhecido oferece a possibilidade de descobrir algo que não se conhece e que pode ser mais instigante que a própria existência3. A perda de uma pessoa amada é uma das experiências mais intensamente dolorosa que o ser humano pode sofrer. É penosa não só para quem experiencia, como também para quem a observa, ainda pelo fato de sermos tão impotentes para ajudar4. O elemento finitude revela o caráter de finito, ou seja, que tudo está acabado. Essa idéia, pode vir acompanhada de tristeza e revolta, considerando que interrompe a vida, podendo-se pensar na morte fora de hora. Pode também ser encarada com indiferença, fatalidade, após ter-se cumprido uma missão; poderá ser chamada de morte na hora certa5.
A morte traz consigo, sentimentos importantes como a indiferença – mecanismo de defesa; a tristeza – normal pelo laço de afeto construído no relacionamento cuidador-doente; impotência – que vem da fantasia de que conhecimento resolve tudo; medo de expressar sentimentos - resultado da construção do mito de que o cuidador deva ser impassível diante da situação de morte6.
Mas a morte traz a dor, que é definida pelo comitê de taxonomia da “International Association for the Study of Pain" – I.A.S.P. (Associação Internacional para o Estudo da Dor), como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a lesões teciduais reais ou potenciais. A maneira que cada ser humano sente, reage e memoriza a dor é única e pessoal porque está ligada diretamente à estrutura do seu mundo interno7.
A “Dor Total” inclui o sofrimento físico, psíquico, social, espiritual, mental, cultural e financeiro do paciente, abrangendo também o sofrimento dos familiares, da equipe médico–hospitalar e cuidadores8.
Prover cuidados pode causar estresse fisiológico e emocional. Pode causar sofrimento, deterioração e envelhecimento do organismo. Pode produzir sintomas, precipitar doenças que estavam em estado latente ou agravar doenças existentes, diretamente influenciadas pelo estado de ansiedade, depressão. Os diversos distúrbios do funcionamento mental estão também intimamente relacionados com o provimento de cuidados9.

MORTE

No imaginário popular a morte é representada como o juiz cruel que não faz distinção entre pessoas, classes, raças, sexos ou religiões. Ela é o ser perfeitamente justo que vem atingir a todos, sem levar em consideração nenhum de seus privilégios. A morte desempenha seu papel sem considerar mérito ou demérito, por meio de suas cartas, enviadas nominalmente, com destinatário certo. Uma única cobrança e todos são igualados10. O vivente quando morre é porque “[...] cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre”11. Desse modo, a morte é o ideal popular da justiça que trata a todos de forma igualitária, segundo o princípio de “dar a cada qual a mesma coisa”12.A pergunta “o que é a morte?” tem múltiplas respostas e nenhuma delas conclusiva, pois a questão transcende os aspectos naturais ou materialistas e, até biologicamente, é difícil uma resposta unânime13. “É a cessação total ou permanente de todas as funções ou ações vitais de um organismo”14. “A morte é o fim da vida. Mas fim entendido como meta alcançada, plenitude almejada, lugar do verdadeiro nascimento. A união interrompida pelo desenlace não faz mais que preludiar uma comunhão mais íntima e mais total”15.
Antigamente, a morte era tratada com mais naturalidade. O doente permanecia em casa, era cercado pela família e recebia atenção de todos. Dava as recomendações finais, manifestava seus últimos desejos, pedia perdão e se despedia. O falecido ficava exposto sobre uma mesa e, durante dois ou três dias, seus parentes e amigos, com vestimentas de luto, desfilavam diante dele para o último adeus15. Entretanto, na sociedade moderna industrial, há um afastamento da morte, o que é refletido na modificação das atitudes perante ela. Diante da morte, o imperativo é o silêncio. A grande cena da morte foi transformada em um ato frio, onde ninguém tem direito de se emocionar, senão às escondidas, para não perturbar os sobreviventes. Há uma tendência à neutralização dos ritos fúnebres e à ocultação de tudo o que diz respeito à morte. O velório acontece longe da casa do falecido e seu corpo é preparado de forma a perder suas características de defunto por meio da toalete funerária. O funeral é rápido, e, às vezes, alguém pronuncia algumas palavras em homenagem ao morto e tudo se encerra16.
A morte não se refere apenas ao envelhecimento contínuo, à transitoriedade, ao declínio inexorável de todas as forças vivas. Ela evoca também um outro mundo, aterrador, “aquele da confusão, do caos, do ininteligível, onde não existe mais nada nem ninguém”17.Apesar de a morte subsistir desde os primórdios da humanidade, em que a vida e a morte co-existem, o processo de morte e morrer tem sido motivo de aflição e agonia, já que mostra o quão suscetível e tênue é o estar vivo, ou seja, ser mortal18.
O enfrentamento da morte é difícil e angustiante para quem a vivencia, podendo ser mais ainda para quem a observa, porque a morte provoca rupturas profundas entre quem morreu e o outro que continua vivendo. Isso requer ajustamentos no modo de entender, de perceber e de viver no mundo19.

O CUIDADOR

O ato de cuidar inclui duas significações básicas, inteiramente ligadas entre si. A primeira é a atitude de desvelo, de solicitude e de atenção para com o outro. A segunda, de preocupação e de inquietação, porque a pessoa que tem cuidado se sente envolvida e afetivamente ligada à outra 20.
É sabido que o processo de cuidar de pessoas, inevitavelmente, proporciona sofrimentos, sentimentos de alegria, tristezas, impotência, perdas, dor, rejeições e angústias naqueles que são responsáveis de cuidar, principalmente, quando aqueles a serem cuidados, encontram-se em condição de fragilidade21.
Exercer o papel de cuidador é assumir uma grande responsabilidade consigo mesmo e com o outro. Não é fácil ser cuidador de um indivíduo, cuja morte é iminente, sendo difícil proporcionar uma assistência digna, Atendê-lo integralmente e aceitar que o limite desse cuidado possa ser traçado por ele. Diante disso, torna-se necessário um equilíbrio das reações e emoções diante do doente e seus familiares. Apesar de o sofrimento existir, o que se busca é assumir uma atitude ética e respeitosa ao lidar com os próprios sentimentos diante do sofrimento causado pela morte22.As pessoas nem sempre cuidam por vocação ou carinho do seu familiar. E isto poderá ocasionar desgosto na realização dos cuidados. Este tipo de família com certeza irá recorrer aos centros de apoio para pessoas com doença crônica ou preferem que o paciente passe a maior parte do tempo internado23.
Muitos dos cuidadores desabafam em relação aos seus sentimentos: a falta de tempo para cuidarem de si e dos demais membros da família, como os filhos, visto que a entrega maior se dá por parte das mulheres. É possível observar a vulnerabilidade dos cuidadores por diversos fatores, associados ao surgimento de manifestações psíquicas: visão negativa do cuidador sobre a doença ou sobre o impacto que esta doença tem na sua vida, ausência de uma rede de suporte, relação difícil com o paciente. Para o cuidador não se trata apenas de sobrecarga das tarefas, mais sim uma ameaça a sua saúde23.
A Organização Mundial da Saúde considera o atendimento às necessidades dos cuidadores um dos principais objetivos dos cuidados paliativos23.
Outro problema visível é a falta de compreensão dos demais familiares, no caso do cuidador familiar, pois a sobrecarga acaba sendo maior para o cuidador principal, apontado pelos demais membros da família24.
É comum que nas famílias um membro seja eleito como o “cuidador principal”, ou seja, uma pessoa que assume os cuidados permanentemente ou a maior parte do tempo sem ser remunerada para isto. O parentesco mais esperado entre os cuidadores principais é o da filha, independentemente do sexo do paciente, seguido de esposa25.
A escolha do cuidador não costuma ser ao acaso e a opção pelos cuidados nem sempre é do cuidador, mas, muitas vezes, expressão de um desejo do paciente, ou falta de outra opção; ao se sentir responsável, assume este cuidado, mesmo não se reconhecendo como um cuidador26.A possibilidade de cuidar remete o profissional à relação mais próxima possível com o paciente de quem cuida, de maneira que ele possa ser percebido em sua dimensão humana27. Sob esse prisma, a morte não é tão somente o aniquilamento de um estado biológico, mas é também a finitude de um ser em interação com um outro27. Esse entendimento do outro faz parte da mais importante atividade mental, porque possibilita o desenvolvimento do self e a sua aproximação com as situações da realidade cotidiana28.
Embora a temática morte, morrer, sofrimento e perda sempre desencadeie, por si só, os mais variados sentimentos, geralmente de desalento, a depender do sofrimento a que o ser humano está exposto, é possível que o cuidador, profissional ou não, não lhe deseje a morte, mas aceite a situação de morte como alívio para o que parece ser cruel e doloroso19.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo que engloba a morte e o morrer é confrontada pelos cuidadores, profissionais ou não, em seu trabalho efetivo de assistir as pessoas. Este trabalho de revisão evidenciou que sentimentos de luto como tristeza, angústia, ansiedade emergem no cotidiano e refletem uma imensa frustração e culpa em quem cuidou do outro diante da morte e do morrer. E ainda, que há a necessidade de se entender que a morte não é um desafio à vida, mas parte integrante da mesma. “como tudo o que é humano, a vida é também cansaço que anseia pelo sono”29.
Referências Bibliográficas

1 GONÇALVES, L. O. Cuidadores primários familiares dos idosos atendidos na Clínica Escola de fisioterapia da universidade do vale do itajaí -Univali. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina – Florianópolis- SC 2002.
2CAMPOS, E. P. Equipe de saúde: cuidadores sob tensão. EPSTEMO-SOMÁTICA [Belo Horizonte]. V.III. n.02. set/dez 2006. p. 195-222.
3 KOVÁCS, M. J. Educação para a morte: desafio na formação de profissionais da saúde e educação. São Paulo: Casa do Psicólogo;2003.
4 BOWLBY, J. Perda: tristeza e depressão. São Paulo: Martins Fontes; 1985.
5 KOVÁCS, M. J. Pensando a morte e a formação de profissionais de saúde. In: Cassorla RMS, coordenador. Da morte: estudos brasileiros.
2ª ed. Campinas: Papirus; 1998. p. 79-103.
6CASSORLA, R. M. S. Reflexões sobre a psicanálise e a morte. In: KOVÁCS MJ, MORATO HTP, ROTHSCHILD D, FREITAS LV, CALAZANS RA, CASSORLA RMS, et al. Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2002. p. 19-112.
7MERSKEY, H.; ALBE – FESSARD, D.G.; BONICA, J.J.; CARMON, A.; DUBNER, R.; KERR, F.W.L.; LINDBLOM, V.; MUMFORD, J.M.; NATHAN, P.W.; NOORDENBOS, W.; PAGNI, C.A.; RENAER, M.J.; STERNBACH, R.A.; SUNDERLAND, S. – Pain terms: a list with definitions and notes on usage. Recommended by the IASP subcommittee on Taxonamy. In: Pain, 6: 249 - 52, 1979.
8SAUNDERS, C. – Hospice and palliative care. An interdisciplinary approach. London. Edward Arnold. 1991.
9RIO, R PIRES do. O fascínio do stress. Vencendo desafios num mundo em transformação. Rio de Janeiro: Editora Dunya, 3. ed.,1998.
10 SARAMAGO, J. As intermitências da morte. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. SBP. Revista Brasileira de Pediatria. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Pediatria, mar, 2005.
11SUASSUNA, A. Auto da Compadecida. 10. ed. São Paulo: Agir Editora, 1973.
12 PERELMAN, C. Ética e Direito. Trad. de Maria Ermantina Galvão G. Pereira. Martins Fontes: São Paulo, 1996.
13CHIAVENATO, J. J. A morte: uma abordagem sócio cultural.. 2a ed. São Paulo: Moderna; 1998. 126p.
14VIEIRA, T. R. Bioética e direito. São Paulo: Jurídica Brasileira; 1999. 80p.
15BOFF, L. Vida para além da morte. 2a ed. Petrópolis: Vozes; 2002. 208p.
16ARIÉS, P. Sobre a história da morte no ocidente desde a idade média. 2a ed. Lisboa: Teorema; 1989. 190p.
17SCHOPENHAUER A. Die welt als wille und vorstellung I (O mundo como vontade e representação I). Livro I. In: Sämtliche werke. Frankfurt/M: Suhrkamp: Ed. Wolfgang Frhr. Von Loehneysen; 1986. Vol. I.
18 BELLATO, R.; CARVALHO, E. C. O jogo existencial e a ritualização da morte. Rev Latino-am Enfermagem. 2005; (13)1:99-104.
19CARVALHO, L. S.; OLIVEIRA, M. A. S. da; PORTELA, S. C.; SILVA, C. A. da; OLIVEIRA, A. C. P. de; CAMARGO, C. L. de. A morte e o morrer no cotidiano de estudantes de enfermagem. R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2006 out/dez; 14(4):551-7. • p.551 -7.
20 BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1999.
21AMORIM, L. V. Importância de cuidar dos cuidadores. Disponível em: www.unama.br. Acesso em: 27/09/2008.
22ARAÚJO, P. V. R., VIEIRA, M. J. A questão da morte e do morrer. Rev Bras Enf 2004 maio/jun.; 57 (3): 361-3.
23FISCHER, E. S., SILVA, M. J. P. Reações emocionais da enfermeira no atendimento ao paciente fora de possibilidades terapêuticas. Nursing (São Paulo) 2003 nov.; .66 (6) : 25-30.
24KALINKE, L. P.; DIAS, A. R. O. de; COSTA, J. F. da; TESTONI, R. I.; BETTEGA, R. As dificuldades apresentadas por cuidadores familiares de pacientes oncológicos em cuidados domiciliares: uma visão da enfermagem. Disponível em: www.utp.br/proppe Acesso em: 26/092008.
25OMS- Organização mundial da saúde. Câncer. Disponível em http://www.oms.br Acesso em 26/09/2008.
26WANDERBROOCKE, A. C. M. S. Perfil do cuidador do paciente idoso com câncer. Revista Psico, Port Alegre, v. 33, n. 2, p. 401-412, jul./dez. 2002.
27 PALÚ, L. A.; LABRONICI, L. M.; ALBINI, L. A morte no cotidiano dos profissionais de enfermagem de uma unidade de terapia intensiva. Rev Cogitare Enferm. 2004; (9)1:56-79.
28CHARON, J. M. Simbolic interactionism: an introduction, an (UK): Cliffs Prentice-hall; 1985.
29 ALVES, R. Tempo de morrer. In: Alves R. O retorno e terno: crônicas. 7a ed. Campinas: Papirus; 1996. p.113.

domingo, 23 de novembro de 2008

ENTENDENDO O ENVELHECIMENTO E SUAS COMPLICAÇÕES MENTAIS
Autor(a): Leuda S. Rodrigues
23 de Novembro de 2008

1. OBJETIVO DO ESTUDO
O estudo propõe que se apresentem alguns conceitos, os mais observados, abordagens teóricas biológicas e pscicossociais do envelhecimento, responsáveis pela maioria das inspirações de ações assistenciais trabalhadas na área de saúde do idoso. Ainda assim buscar as principais complicações seja de ordem física ou mental, que mais evoluem nesta fase da vida.

2. INTRODUÇÃO
O século XX se caracterizou por imensas transformações. Possivelmente a maior delas é o envelhecimento populacional. A esperança de vida cresceu, mundialmente, cerca de 30 anos neste último século. As conseqüências desta maior longevidade são dramáticas e pouco apreciadas. Toda a sociedade está sendo afetada - e continuará a sê-lo na medida em que esperamos para as próximas décadas um processo de envelhecimento ainda mais rápido refletindo a diminuição acelerada das taxas de natalidade, nos últimos anos, na maioria dos países. A equação demográfica é simples: quanto menor o número de jovens e maior o número de adultos atingindo a terceira idade, mais rápido o envelhecimento populacional (VERAS, 2003).
A expectativa que temos frente a gerontologia é de que devemos buscar artifícios que induzam o individuo, quando na velhice, evoluir de forma aceitável frente todos os desafios que a ele são propostos nesta fase. O envelhecimento faz parte de um ciclo vital da vida de todo o ser humano, portanto, não tem como fugir, por isso se faz pertinente entendermos alguns conceitos teóricos e práticos que se assemelham com o transcorrer deste processo, para que desta forma ocorra uma aceitação bem vida e não por mera obrigação. As concepções devem ser baseadas em uma continuidade da vida, visando-se assim uma melhor qualidade do bem-estar e do bem-viver.
Segundo Freitas, et. al.(2006) durante séculos, o estudo da longevidade e do envelhecimento em seres vivos foi relegado a um papel meramente acessório nas diferentes disciplinas da Biologia. Estudos da genética, bioquímica, fisiológica e ecologia abordavam superficialmente temas ligados ao envelhecimento, sem, contudo, se ocuparem da elaboração de convenções instrumentais ou de terminologias que pudessem ser usadas para facilitar a exploração dos mesmos.
Veras (2003) diz que O Brasil, país de nível intermediário de renda per capita, marcado por profundas desigualdades sociais, apresenta situações absolutamente contrastantes, com estratos sociais privilegiados exibindo padrões demográficos e comportamentais em tudo semelhantes aos existentes nos países desenvolvidos e populações carentes de recursos básicos, como habitação, saneamento e alimentação adequada. Do ponto de vista demográfico, não resta dúvida de que existe uma superposição em nosso país de uma população jovem de dimensão muito relevante, com uma população envelhecida igualmente expressiva, na verdade, o Brasil atual trata-se de um "país jovem de cabelos brancos".

2.1 Alguns Conceitos sobre o envelhecimento
Processo inelutável caracterizado por um conjunto complexo de fatores fisiológicos, psicológicos e sociais específicos de cada indivíduo. Assim, certos idosos estão mais envelhecidos, outros parecem mais jovens e há ainda os que se sentem não ter qualquer utilidade, afirmando a complexa heterogeneidade da velhice (Berger, 1996).
Para Papaleo (1996), o envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, com modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam perda da capacidade de adaptações do individuo ao meio ambiente ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que terminam por levá-lo a morte.
Um conceito bastante utilizado pro pesquisadores brasileiros para envelhecimento é que este ocorre devido mudançsa morfofuncionais ao longo da vida, que ocorrem após a maturação sexual e que, progressivamente, comprometem a capacidade de resposta dos indivíduos ao estresse ambiental e à manutenção da homeostasia (Mercadante, 1996).
Sob a óptica do Estatuto do idoso , Lei numero 10.741, de primeiro de outubro de 2003, o envelhecimento deverá ser visto por intermédio de um critério cronológico, em que diz que o limite de idade entre o indivíduo adulto e o idoso é de 60 anos, porém, em alguns aspectos, principalmente relacionados, como as gratuidades em cinemas, transportes entre outros, é de 65 anos.
O envelhecimento não deve ser considerado como sendo só a soma de patologias agregadas e de danos induzidos por doenças. Inversamente, nem todas as mudanças em estrutura e função dependentes da idade podem ser consideradas alterações fundamentalmente ligadas à idade por si só.
2.2 Teorias sobre o envelhecimento

Teoria imunológica esta considerada como sendo a transformação imunológica resultantes do envelhecimento resultariam na formação de anticorpos que atacariam as células sãs do organismo. Portanto, o sistema imunológico não conseguiria distinguir as células sãs existentes no organismo das substâncias estranhas.
Teoria do uso e desgaste aqui se trabalha com a visão de que o organismo humano comporta-se como uma máquina, cujas partes deterioram-se com o uso. Esse desgaste provocaria anomalias que param seus mecanismos.
Teoria dos radicais livres aqui se postulam a falência progressiva das células com funções integradoras entre o organismo e o sistema nervoso, levando ao colapso da homeostasia corporal, à senecência e à morte. Para os pesquisadores, a longevidade seria regulada por um relógio biológico que agiria sobre as glândulas endócrinas, sobretudo na hipófise, a fim de prover falhas nos sistemas imunológicos e circulatórios. Os relógios hipofisários ou celulares desencadeiam processos humanos como crescimento, puberdade, menopausa e envelhecimento.
Teoria psicológica desta vez trabalha-se com uma gama de especialidades desde a própria psicologia, antropologia, sociologia até outros profissionais que visam instituir de forma globalizada respostas ao fenômeno do envelhecimento. Esta dividem-se em três abordagens, conforme o paradigmas que propõem: a mudança ordenada, a contextualidade e a dialética, Camacho (2001). Uma das maiores contribuições dessa teoria é a multideterminação do desenvolvimento, que permite a formação de perfis vitais diferenciados e faz com que as pessoas sejam diferentes entre si; portanto o desenvolvimento não se traduz em mudanças unidirecionais e acumulativas, mas em mudanças multilineares e descontínuas.
Teoria sociologias estas classificadas de acordo com as gerações, para que seja possível conhecer suas origens intelectuais e a contribuição das teorias anteriores para a formulação de novas explicações. Souza (1999) diz que esta evolução em gerações contribui para o reconhecimento de que os idosos não são atores passivos do processo, e sim criam significados para o próprio envelhecimento, e a estrutura social também é reciprocamente afetada por esses significados.

2.3 Complicações frente o Envelhecimento
Definir a categoria velhice não é tarefa muito fácil, porque envolve muitas variáveis: biológicas, cronológicas, psicológicas, existencial, cultural, social, econômica, familiar e política. No entanto, o envelhecimento é definido como um fenômeno biológico e psicológico que influencia o meio familiar e social e caracteriza-se pela perda gradual das funções orgânicas (Oliveiras, 2004).
A condição em que o idoso retém sua capacidade intelectual e física em níveis aceitáveis é chamada de senescência, e quando aparecem sinais de degeneração muito intensos, ocorre o envelhecimento patológico, chamado senilidade.
Segundo (2006) a Saúde Mental do idoso pode ser entendida como o equilíbrio psíquico que resulta da interação da pessoa com a realidade. Esta realidade é o meio circundante que permite à pessoa desenvolver suas potencialidades humanas; normalmente, essas potencialidades estão estreitamente associadas à satisfação de suas necessidades. Faz-se importante considerarmos três aspectos concretos: estado mental, percepção do envelhecimento e autonomia funcional.
Problemas mentais mais comuns nesta fase da vida:
1. Depressão caracterizada por tristeza, baixa da auto-estima, perssimismo, desesperança, retraimento e idéias de suicídio. O comportamento depressivo é considerado uma resposta inadaptada a alguma perda. Ela se divide em Depressão reativa, Depressão secundária e Depressão endógena.
2. Ansiedade aqui temos o transtorno da ansiedade generalizada, contribuindo para o estado de sono e prejuízo cognitivo. Este tem sido foco de investigação no mundo, uma vez que reduzem a qualidade de vida da pessoa idosa. A ansiedade pode ser considerada um transtorno multidimensional.
3. Psicose esta e menos comum, mas ocasionalmente o idoso desenvolve características psicóticas, como delírios, alucinações ou distúrbios de dissociação da realidade.
4. Demência implica sempre em um comprometimento significativo e irreversível na qualidade de vida da pessoa. Portanto, se a dem6encia foi diagnosticada, o prognóstico é sempre reservado. Porém, não é raro encontrar quadros similares à demência em idosos hospitalizados que, se apropriadamente tratados, restabelecem a saúde cognitiva.
5. Perda memória após os 60 anos, as dificuldades de memória e/ou cognitivas podem ser tão proeminente que chegam a levantar suspeitas de um quadro demencial, o qual passou a ser chamado de pseudodemência . Vários fatores contribuem para a perda da memória no idoso: estresse, depressão, crise, sentimentos de inutilidade, perdas de interesse pelos afazeres da vida diária, perdas da células neurais, isolamento social (Torres, 2001).
6. Confusão mental é o conjunto de características que defini desatenção, verbalizações impróprias, déficits de memória, comportamento inadequado e fracasso na execução das atividades da vida diárias. Segundo Figueiredo (2006) muitas vez o idoso é isolado do meio social e do contato com outras pessoas, tem pouco acesso à leitura e aos meios de comunicação, o que pode contribuir para a falta de orientação autopsíquica (com relação aos dados sobre ele: quantos anos tem, onde mora, dia do aniversário etc.) e alopsíquica ( que dia é hoje, onde está, em que ano, mês etc). A confusão mental pode ser causada por fatores sociais, fisiológicos e patológicos.
7. Isolamento social por medo de sofrer perdas faz com que o idoso inicie um processo de isolamento; ele opta por ficar sozinho, com medo de se envolver emocionalmente e acabara por vivenciar mais uma situação de perda.
8. Risco de violência contra si próprio comum nesta fase da vida, neste momento o suicido é comum, pessoas de terceira idade constituem um grupo considerado de grande fragilidade social e, por isso, de alto risco para o suicídio. Na maioria das vezes, as pessoas tentam o suicídio por que se sentem só e abandonadas pelos familiares e amigos.
9. Autonomia funcional (mobilidade, AVD) são dois importantes fatores para se adquirir autonomia, porém nesta fase da vida tendem a estarem comprometidas, e é justamente aí que inicia o processo social debilitado, pois as funções estão restringidas, até mesmo palas poucas condições oferecidas e também executadas pelo idoso. As perdas motoras devem ser adaptadas frente às atividades diárias proposta a eles, desta forma trabalha-se a autonomia individualizada, limitando-se a resposta observada por cada um.

3. Tratando as complicações com o Apego Religioso observado nos idosos
Para os idosos, o sentido da vida está no sagrado, por isso dele se aproximam e se abrem para recebê-lo. Diante do sagrado se sentem fortes, amados, protegidos e filhos de Deus e nas relações com a comunidade são mansos, pacíficos e festivos. Tais sentidos propiciam a organização interna necessária para que se posicionarem no mundo. Sua religiosidade é vivida paradoxalmente, pois é na relação com o sagrado que sentem fortes na fraqueza, alegres apesar da dor, sábios na ignorância e ricos na pobreza.
Buscam fundamentar e organizar a vida com os sentimentos e afetos gerados, no convívio com o sagrado. Há na religiosidade desses idosos uma atitude de abertura ao mistério, ao invisível e transcendente que é importante para ser considerada na visada do psicoterapeuta, na sua lida com essa população. Existe uma importância frente o discurso religioso dos idosos, uma vez que ele revela os diversos estilos culturais e pessoais da psique, oferecendo pistas para decifrar os enigmas humanos e para compreender a sua dimensão mais profunda, ou seja, o seu núcleo mais íntimo e existencial.
“Quando a religiosidade se torna um Problema”
A religiosidade é muito tida como fator pelo qual o idoso tenta se apegar a algo que apesar não ver, mas tem o sentimento de alto sentido, provado pela sensação de sentir a presença constante de um Deus que os ampara independente das crenças. O problema se dá quando esta religiosidade interfere na boa atuação mental deste idoso, pois alguns se fragilizam a tal ponto, que absorvem de maneira errônea o significado da religiosidade em suas vidas. Eles fazem da religião um fanatismo que os propiciam uma ligação confusa entre o seu meio interno e o meio externo. Alguns tendem a se fragilizar ainda mais com o passar do tempo conseqüentemente traduzem em suas faces e atitudes reações penosas e questionáveis.
4. Considerações finais
Finalmente estar nesta fase da vida é uma realidade social imutável e que pode ter algumas representações, às vezes difíceis de resolver por causa da família, de preconceitos sobre os idosos e de marginalização. Ainda se observa muitas contradições sobre o que se sabe sobre o envelhecimento e suas complicações.
Aqueles que cuidam de idosos ou t6em em casa devem esforçar-se para despertar sua consci6encia interior para essa realidade. Uma consciência que aceite o real e não fique só a imaginar, criando conceitos teóricos sobre o que é ser idoso sem senti-lo na própria pele.
Deve-se considerar o conhecimento e a experiência do próprio idoso sobre o envelhecimento. Não se pode acreditar num entendimento fabricado por ideologias dominantes, nem por fantasias acerca da realidade, do ideológico. Não se pode inventar, é necessário saber o sentido de envelhecer para cada pessoa, de modo que os profissionais de saúde e os familiares ajudem e cuidem do idoso sob um contexto real e não ilusitório, disfarçado por paradigmas inexistênciais.
O idosos depositam na religião suas esperanças. A afetividade se manifesta de maneira muito intensa em relação à religiosidade. Isso pôde ser observado tanto no aspecto dos sentimentos, quando o idoso fala de sua fé, de como agradece a Deus pela sua vida e como Deus é bom, quanto no aspecto das emoções, quando sorriem, quando se acomodam melhor na cama para tratar sobre o assunto, quando gesticulam de maneira mais expansiva.
Uma abordagem positiva da religiosidade pelos profissionais e pelas pessoas que se relacionam com o idoso poderá auxiliar na recuperação de sua saúde, oferecer melhores condições de saúde e de bem estar tanto ao idoso quanto aos que estão envelhecendo. O processo de cura deverá ocorrer de forma humanizada, desta forma refleti-se o consentimentos de reações positivamente aceitas. Finalizando Sayeg (2003) afirma que “o modo como o indivíduo vive e as relações que estabelece, determina, junto com outros fatores, a forma como se desenvolve o processo de envelhecimento”.
Referências Bibliográficas
CAMACHO, A.C.F. O cuidado de enfermagem ao cliente idoso hospitalizado: um estudo exploratório das representações dos profissionais de enfermagem. 232 p. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, 2001.
FIGUEIREDO, N.M.A. GERONTOLOGIA atuação da Enfermagem no Processo de Envelhecimento. Yendes Editora, Rio de Janeiro, 2006.
SANTOS, S.M.A. A construção do cuidado familiar de pessoas com dem6encia: um estudo em famílias japonesas e brasileiras. Tese (Doutorado). Faculdade de Educação Unicamp, Campinas, 2003.
SAYEG, M.A. Envelhecimento bem-sucedido e o auto-cuidado: algumas reflexões Rio de Janeiro: Científica Nacional, 2003.
SOUZA, G.G. O olhar do idoso para si e para a consulta de enfermagem: perspectivas de abordagem a partir de suas representações. 86fl. Dissertação (Mestrado em Enfermagem). Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade federal do estado do rio de janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, 1999.
MERCADANTE, E. Aspectos antropológicos do envelhecimento. In PAPALÉO NETTO, M. GERONTOLOGIA. São Paulo: Atheneu, p.73-76, 1996.
VERAS, M.R. Fatos da Terceira Idade. Medis; 98p. Rio de Janeiro; 2003.

A viuvez na velhice e suas ressignificações

Por: Andrea Moraes Ribeiro
Prof: Vicente Alves


Introdução


Envelhecer é fato inevitável no curso da vida, pois inicia já com o nascimento e estende-se ao longo dos anos. Independentemente de raça, cor ou gênero, trata-se de um processo inerente a todos os seres vivos, seguindo-se ao longo do tempo e findando com a morte. Já que a morte é uma certeza de que se tem na vida.
A velhice traz consigo inúmeras alterações fisiológicas e comportamentais, mas o acontecimento da perda do parceiro nessa fase de vida pode significar um processo complexo que altere toda a estrutura psicossocial e até fisiológica dos idosos. É consenso entre os tanatólogos que o enfrentamento do luto é influenciado por vários fatores externos e internos ao sujeito, dentre eles, a cultura local e a experiência de vida da pessoa enlutada. Sendo este processo, então, vivenciado e resignificado das mais variadas formas.


Dialogando com alguns autores


De acordo com Doll (2002) a perda do parceiro sempre foi considerada um evento drástico que afetava a psique, a saúde e as relações sociais das pessoas. No entanto este processo não ocorre de forma estática e homogênea entre os indivíduos. A cultura vigente e o contexto social estão fortemente relacionados ás maneiras de enfrentamento do luto, bem como os sentimentos e comportamentos individuais também podem influenciar as formas sociais de luto. De modo que, cada indivíduo pode experimentar de forma singular a perda de um ente querido e entre os idosos este processo não é diferente.

D`Assumpção (2008) aponta que há uma idéia atual de que os idosos aceitem melhor a morte que os jovens. Isto ocorreria pelo fato de terem tido uma vida longa e realizada, por terem maior proximidade com eventos que causam a morte, como as doenças incapacitantes e degenerativas. O idoso passa por um maior número de lutos e numa velocidade maior que os demais grupos etários. Por vezes, a pessoa idosa tem que lidar com a morte do companheiro, amigos, filhos e netos. Podendo não haver tempo de elaboração dessas perdas. De modo que o idoso teria uma maior capacidade de adaptação ao luto, já que convive mais freqüentemente com ele. No entanto, para este autor, na maioria das vezes a dor da perda de um ente querido é mais insuportável que a possibilidade da própria morte.

Corroborando, Doll (2002) afirma que as pessoas mais velhas têm, em geral, mecanismos de controle emocional mais desenvolvido, e, justamente por já ter passado por um número maior de perdas ao longo da vida, podem ter desenvolvido formas mais eficazes de lidar com o luto. Contudo, os idosos são mais vulneráveis tanto física quanto socialmente, e a perda do companheiro de toda uma vida pode significar um desarranjo estrutural sem precedentes.

Para Doll (2002) a viuvez sempre teve uma conotação feminina, sendo principalmente relacionada às mulheres, pois as viúvas sofrem mais as conseqüências, como perda do papel social, diminuição ou perda total da renda e isolamento social. Este último, mais evidente quando a identidade da mulher é fortemente ligada ao marido. Na Idade Média, inclusive, surgiram diferentes tipos simbólicos de viúvas, a viúva alegre, a viúva pobre e a boa viúva. Algumas destas representações presentes até os dias de hoje.

Já entre os homens idosos a perda da companheira pode ser agravada por eventos que geralmente ocorrem nesta fase da vida como, aposentadoria e outras perdas de papéis sociais, o que de acordo com Doll (2002) aumenta os riscos de problemas psicológicos, como a depressão. Pesquisa atual revela que, enquanto as mulheres sentem mais falta do que os maridos representavam para elas, os homens sentem mais falta do que as mulheres faziam para eles, como cuidar da casa e da família, e do valor emocional que este cuidado representava.

A perda de um ente querido pode acarretar manifestações mais variadas possíveis entre os indivíduos, que vão desde a aceitação total da perda, a chamada ausência do luto, até a própria morte da pessoa enlutada. Freud (1917) em seu ensaio sobre a melancolia defende a existência do luto normal e do luto patológico. Para ele, o enfrentamento saudável ou normal do luto passa pela dissolução do vínculo da pessoa enlutada com o ente falecido. Quando isso não ocorre, desenvolve-se o luto patológico. No entanto, atualmente, há uma corrente de pesquisadores que aceitam e incentivam a manutenção dos laços afetivos com o falecido, já que as lembranças dos momentos vividos juntos podem transmitir segurança e força para o que vive.

As reações típicas ao luto são depressão, desespero, angústia, sensação de culpa, raiva dos outros, de si mesmo ou do morto e solidão. Para Doll (2002) a agressividade e a raiva são comuns na primeira fase após a perda do parceiro, no entanto, tendem a diminuir dando espaço para sentimentos de tristeza, de solidão e insegurança quanto à nova vida sem o parceiro. Viver o luto não significa necessariamente doença, mas pode acarretar sérios problemas de saúde, como problemas psicossomáticos, se não trabalhado de forma adequada. Lembrando que o impacto e as conseqüências da perda do companheiro dependerão das condições físicas, psíquicas e sociais anteriores e atuais do enlutado, ou seja, da vulnerabilidade do sujeito. A preexistência de doenças crônicas, condições psiquiátricas e uma estrutura familiar desorganizada podem agravar consideravelmente a experiência do luto. Por outro lado, uma rede de apoio na família, amigos e vizinhos são capazes de aliviar a tensão da perda, já que a pessoa enlutada sente-se confortada em seu sofrimento e em sua singularidade.


A vida após o luto: reaprendendo a viver


Atualmente, o luto é percebido como uma fase comum no percurso da vida, e como tal, a readaptação pode ser possível. Nesta perspectiva, conceitos como resiliência e enfrentamento são usados para compreender os esforços empenhados pelo sujeito para lidar com as demandas do luto. O termo enfrentamento foi introduzido pela psicanálise freudiana, portanto envolve uma conotação de fundo psicopatológico, sendo o luto uma experiência que pode ser tratada e curada por profissionais psicoterapeutas, quando a experiência da perda prolonga-se mais do que o necessário. Mas quem está realmente capacitado para decidir sobre o tempo exato de sofrimento da perda de um ente querido? No caso do idoso, qual o tempo necessário para cortar os vínculos com o companheiro de toda uma vida? E é realmente possível cortar estes vínculos?

Várias críticas são feitas atualmente a este modelo de enfrentamento do luto proposto por Freud (1917) e seguidores. Dentre elas, a necessidade de solução dos vínculos com o falecido. Para Doll (2002), Baldin e Fortes (2008) o companheiro morto pode sim ocupar um novo lugar na vida do sujeito. Todas as lembranças inesquecíveis podem sim ajudar a refazer a vida, apesar da saudade. Neste sentido, o tempo é um forte aliado:

"A passagem transcorrida após a morte do companheiro mostra que o tempo é um “cicatrizante” e que o conformismo não significa mera acomodação, mas um recurso que possibilita às idosas viverem com menos sofrimento, conseguirem superar as dificuldades que poderão surgir na velhice e viverem esta fase com mais qualidade de vida. (Baldin e Fortes, p.48, 2008)"

Neste sentido, readaptar-se significaria a elaboração da perda, vivenciando o luto como um período de transformações. A capacidade do auto-cuidado, o apoio da família e amigos, bem como a construção de um novo projeto de vida, podem ser estratégias positivas na passagem do luto.


Considerações Finais


A Viuvez é um evento dramático na vida das pessoas, e dentre os idosos não é diferente. Talvez pela vulnerabilidade psicossocial e física a que o idoso está exposto este processo seja ainda mais difícil. O que vai definir as conseqüências do luto na vida dessas pessoas é a forma como a perda será elaborada e vivenciada pelo sujeito.

Importante ressaltar que a experiência do luto não é homogênea nem universal. Cada pessoa fará uso dos recursos disponíveis para enfrentamento das demandas, que parecem tão maiores que suas condições de luta. Cada sujeito poderá significar a perda segundo sua singularidade e ressignificá-la de acordo com suas possibilidades. Podendo inclusive sair deste processo mais forte e feliz. Nesta perspectiva, o apoio da família e amigos torna-se imprescindível, já que a percepção de que se é parte integrante de uma família e com uma missão ainda a cumprir pode abrir novos caminhos a serem trilhados na nova fase da vida.



Referências Bibliográficas

Baldin, C. J.; Fortes, V.L.F. Viuvez feminina: a fala de um grupo de idosas. In: RBCEH, Passo Fundo, v. 5, n. 1, p. 43-54, jan./jun. 2008. Disponível em: http://www.upf.br/seer/
Acessado em 21.11.2008.

D’ ASSUMPCÃO, E. O idoso diante da vida e da morte. Academia Mineira de Medicina. (on line). Disponível em www.acadmedmg.org.br . Acessado em 4 de maio de 2008.

Dell´Aqua, G.; Mezzina, R. Resposta à Crise. In. Delgado, J. A loucura na sala de jantar. São Paulo: CCJ, 1991. p.53-79.

DOLL, J. Luto e viuvez na velhice. In: Freitas, E. V. et al. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 2002. p. 999-1012.

Freud, S. Luto e Melancolia (1917). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. XIV, p.275-291.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

preconceito

Após apresentação das alunas da disciplina Enfermagem Gerontológica e Geriátrica discutimos o artigo de Guita Gin com a abordagem sobre as armadilhas que apresentamos ( ou nos apresentam) relacionadas ao envelhecimento. Neste contexto, vimos que a sociedade nos impõe um consumismo sobre o qual deve-se refletir, para que o nosso processo de envelhecimento seja aceito com tranquilidade, sem considerá-lo como doença ou condição de dependência. Portanto, alguns recursos para esconder a idade tem sido utilizados pelas pessoas de forma que o preconceito fica embutido em várias atitudes tomadas (tipos de roupas utilizadas, por exemplo). A discussão sobre o tema é relevante para a construção do envelhecimeto desta sociedade e o nosso próprio.
Postado por marta às 12:46 0 comentários

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Redes sociais e religião no enfrentamento das dificuldades

Introdução

Nos anos 80 e 90, houve uma paulatina abertura, para a aceitação da contribuição da ações sociais conduzidas por grupos religiosos.
Percebe-se que nesse período, a religião, não se limitava mais a um único domínio – o das convicções íntimas e privadas – nem se expressava no campo da militância social e política de forma estritamente remissível às expressões institucionalizadas tradicionais (igrejas). A preocupação passa a ser, neste contexto, distanciar um pouco o foco, para captar outras modalidades de ação em prol da cidadania e, nelas, como um caso particular, o lugar da religião. Trata-se, então, de inquirir sobre o lugar da vivência ou adesão a valores religiosos nos espaços de participação cidadã, interagindo com outras fontes de motivação e orientação para a ação coletiva. (Burity, 2000)
No caso das mudanças na relação entre religião e sociedade/política, deve-se acentuar o impacto positivo que a luta pela redemocratização e o processo de transição à democracia dos anos 80 trouxe para a pluralização da agência social e política, bem como para a introdução de elementos politizadores em diversos segmentos sociais marcados pelo seu isolamento ou conservadorismo. Foi nas décadas de 70 e 80 que a redefinição das relações entre religião e sociedade/política ganhou grande visibilidade social: a igreja popular, as comunidades de base e os movimentos de bairro, a teologia da libertação, o movimento ecumênico (em alguns estados do país), o movimento de direitos humanos (cf. Doimo, 1995; Burity, 1989; 1994; Barreira, 1992; Krischke, 1979; Krischke e Mainwaring, 1986).
Estas ações são relevantes porque induzem um crescente número de experiências locais de inserção de grupos religiosos nas ações sociais de enfrentamento da pobreza, da exclusão, bem como das diversas dificuldades enfrentadas ao longo da vida (Burity, 2000).

A Religião como meio de resistência A busca da religião, enquanto meio de superação do sofrimento e de aquisição de forças para manter a vida, denota o desejo de tentar superar as desigualdades e injustiças e a busca de integralidade humana (Ogata & Furegatto, 2000:11); sendo assim, uma forma de resistência frente à realidade vivida, seja ela pessoal ou social.
É no espaço religioso que se estabelece a identidade religiosa, cultural e social, nesses espaços rituais comunitários que se restabelecem os laços de identidade e de solidariedade da comunidade (Parker, 1996). As pessoas que ali se sentem pertencentes trazem em si uma gama de relações e vínculos que vão além da amizade, do companheirismo, da solidariedade e do apoio mútuo. Elas acabam por se identificarem umas com as outras na busca de se ajudarem mutuamente. É a rede social, interferindo na superação das dificuldades, independente da natureza das mesmas.

Enfrentamento influenciado pela cultura Os eventos são interpretados pelas pessoas, de acordo com os significados que têm para si. Dessa forma, o que torna uma experiência estressante não é o evento em si, mas as avaliações que as pessoas fazem da situação. As pessoas possuem um sistema de orientação que representa uma forma geral de compreender e lidar com as situações e que, em momentos de crise, o processo de enfrentamento é fortemente influenciado por esse sistema. Deve-se levar em consideração que o enfrentamento é influenciado pela cultura já que ela pode modelar o sistema de orientação das pessoas no mundo e as estratégias de enfrentamento, que podem ser ensinadas e privilegiadas em um contexto socio-cultural em detrimento de outras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Barreira, I A F. 1992. O Reverso das Vitrines: conflitos urbanos e cultura política em construção. Rio de Janeiro, Rio Fundo
2. Burity, J A. Redes sociais e o lugar da religião no enfrentamento de situações de pobreza: um acercamento preliminar. Disponível em: http://www.clacso.org/
3. Burity, J A. 1989. Os Protestantes e a Revolução Brasileira, 1961-1964: A Conferência do Nordeste. Dissertação de mestrado em Ciência Política. Recife, Universidade Federal de Pernambuco, mimeo.
4. Doimo, A M. 1995. A Vez e a Voz do Popular: Movimentos sociais e participação política no Brasil pós-70. Rio de Janeiro/São Paulo, Relume-Dumará/ANPOCS
5. Krischke, P J. 1979. A Igreja e as Crises Políticas no Brasil. Petrópolis, Vozes.
6. ______ e Mainwaring, S (orgs.). 1986. A Igreja nas Bases em Tempo de Transição (1974-1985). Porto Alegre, L&PM. 7. Faria, J B; Seidl, E M F. Religiosidade e enfrentamento em contextos de saúde e doença: Revisão da literatura. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2005, 18(3), pp. 381-389.
8. Ogata, M N e Furegatto, A R F, 2000. Concepções de saúde e de doença de profissionais da saúde. VI Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. Anais, CD-ROM. Salvador: ABRASCO.
98. Parker, C, 1996. Religião Popular e Modernização Capitalista: Uma lógica na América Latina. Petrópolis: Editora Vozes.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Importância da Religiosidade no Envelhecimento

A sociedade tem evitado o debate sobre a espiritualidade relacionada com a saúde ou a qualidade de vida, buscando formas mecanicistas e causal de interpretar e até simplificar as vivências humanas. A intenção é refletir sobre as possíveis implicações da espiritualidade no envelhecimento saudável. (Cupertino, 2004)

A espiritualidade pode ser um dos fatores facilitadores da adaptação diante das perdas, mudanças e alterações que estão presentes na medida em que os indivíduos envelhecem. Ela pode ter um papel protetor, fortalecendo o indivíduo para resistir e superar as perdas.

Há evidências de que a espiritualidade, assim como as práticas religiosas, contribui para o bem-estar na velhice e cada vez mais este tópico é incluído nos estudos sobre o envelhecimento. Trata-se de uma área controversa e de difícil investigação devendo ser salientado, no entanto a importância da multidimensionalidade e a diversidade dos conceitos de espiritualidade e de religiosidade. (Sommerhalder C & Goldstein LL, 2006)

O envelhecimento comporta desafios biológicos, fisiológicos e psicológicos que produzem crises existenciais é, no entanto, um fenômeno normal na vida. Como em todos os momentos do desenvolvimento vital, ao chegar a ultima etapa da vida, o idoso sente ainda surgir em si perguntas relativas à origem, destino e sentido de sua existência. Assim como realizar reflexões quanto à forma que viveu e viverá os próximos anos.

O que ocorre é que o ser humano é capaz de viver e até morrer por seus ideais e valores (Frankl, 2003, p.92). Dizia ainda que “não há nada de mais apropriado para que um homem vença ou suporte dificuldades objetivas ou transtornos subjetivos, do que a consciência de ter na vida uma missão a cumprir”. Esta missão tem um caráter específico duplo: “a missão não muda apenas de homem para homem, muda também de hora em hora, em decorrência do caráter irrepetível de cada situação. Esses aspectos da existência humana são constitutivos do seu caráter de sentido. Quanto mais ele apreende o caráter de missão, tanto mais verá sua vida cheia de sentido.

Como toda crise existencial, também essa da última etapa não pode ser superada de modo válido senão por meio da renovação da interioridade. A espiritualidade evidencia a existência de “potenciais forças escondidas no homem que o envelhecer faz desabrochar” (Baldessin, 2002).

Muitas pessoas, especialmente as idosas, experimentam uma forte interação entre sua fé religiosa e um senso de espiritualidade, incluindo tanto a “dimensão horizontal” da espiritualidade (que se dá nas experiências comuns do dia-a-dia), quanto à “dimensão vertical” (a que busca alcançar Deus).

A espiritualidade envolve a capacidade de se maravilhar, de reverência e gratidão pela vida. É a habilidade de ver o sagrado nos fatos comuns, de sentir a pujança da vida (Elkins, 2003). Remete a uma questão universal relacionada ao significado e o propósito da vida. (Sommerhalder & Goldstein, 2006)

Percebe-se que não existe um consenso na literatura quanto à definição de espiritualidade. Ela pode ser definida em três dimensões distintas: 1) espiritualidade como participação em uma instituição religiosa – comportamento objetivo; expressão formal da espiritualidade; 2) espiritualidade individual e/ou subjetiva – movimento ou disposição internos. Refere-se a uma “experiência interna e pessoal emitida em resposta a eventos da vida”; 3) espiritualidade expressada como crença integrativa a dar sentido e significado à existência humana. Como força integrativa entende-se a busca de significado que transcende o indivíduo. (Cupertino, 2004)

Portanto, a religiosidade como um fenômeno multifacetado, busca entender quais aspectos da religiosidade se relacionam com as várias funções psicológicas e o comportamento. De modo geral, há quatro dimensões: crenças, rituais (práticas ou atividades religiosas), experiência e conhecimento religioso.

Lukoff (1992, apud Farias e Seidl, 2006) distingue religiosidade de espiritualidade, sendo que a primeira pode ser definida como adesão a crenças e a práticas relativas a uma igreja ou instituição religiosa organizada; enquanto espiritualidade é a relação estabelecida por uma pessoa com uma força superior na qual ela acredita.

Enquanto a espiritualidade é uma reflexão sobre, a religiosidade remete a uma relação com. Essa relação pode ser com Deus ou com uma entidade. A palavra religião significa religar, restabelecer a ligação entre Deus e os homens. Portanto refere-se a comportamentos e crenças associados à religião. As religiões buscam responder à questão do significado da vida e possuem um código de ética que rege o comportamento e dita os valores morais. (Sommerhalder & Goldstein, 2006)

Molzahn (2007) considera que a espiritualidade é mais inclusiva e universal do que a religiosidade. É considerado relevante independente de a pessoa ter uma religião. É um estado de paz e harmonia e está relacionado ao significado da vida, doença e morte. Tem dimensão religiosa e existencial.

Para Cupertino (2004), percebe-se que o que marca as religiões e a espiritualidade é o fato de se relacionarem com o esforço de pensar a realidade de modo que faça sentido. A espiritualidade é importante para a população idosa e pode desempenhar um papel positivo na manutenção e na recuperação da saúde.

Existe hoje uma tendência dos órgãos oficiais em considerar a espiritualidade ao se falar de saúde. A Organização Mundial de Saúde (1998) reconheceu a importância da dimensão da espiritualidade como sendo essencial na definição de saúde, através da correlação positiva, demonstrada em publicações recentes, entre espiritualidade e qualidade de vida, quer seja em sua dimensão de saúde física, social ou mental.

Chally (2004) afirma que, de acordo com o National Institutes of Health (NIH), qualidade de vida inclui as dimensões de saúde, cultural, psicológica, interpessoal, espiritual, financeira, temporal e filosófica. Trata-se de um conceito subjetivo e contextual. É baseada apenas na experiência do indivíduo. Há uma falha no consenso da definição, cobrindo um leque de conceitos como status de saúde, status funcional, alegria, estilo de vida e depressão.

Estudos científicos demonstraram esta relação positiva. O levantamento de Koening, McCullough and Larson (2001 apud Molzahn, 2007) encontrou 724 estudos sobre espiritualidade neste século. Dois terços demonstraram associação positiva entre atividade religiosa e melhora da saúde mental, aumento do suporte social e menor abuso de drogas.

O estudo de Larson, Swyers & McCullough (1998) mostrou que espiritualidade é um fator positivo em como lidar com a doença, como prevení-la e ainda, ajudando no tratamento. (Molzahn, 2007)

Estudos transversais demonstraram que, embora as dificuldades de saúde e de locomoção levem à diminuição da participação em atividades religiosas institucionalizadas, a freqüência em atividades não-institucionalizadas (oração, leituras religiosas e programas religiosos) permanece inalterada e pode até aumentar (Ainlay, Singleton & Swigert, 1992 apud Sommerhalder C & Goldstein LL, 2006)

Portanto, o envelhecimento é uma realidade presente na sociedade moderna. Envelhecer com saúde e manutenção da satisfação e qualidade de vida é uma meta para os que alcançam a maior longevidade. A espiritualidade está relacionada com melhor saúde física e emocional entre os idosos e ainda pode ser uma estratégia de enfrentamento adequada para os fatores de estresse peculiares ao envelhecimento, como perdas e declínio.

Enfim, envelhecer abre o caminho para o desenvolvimento de um potencial humano, para um novo contexto de aprendizagem, que pode trazer descobertas até certo ponto, facilitadas pela espiritualidade.


Referências Bibliográficas
1- Chally PS e Carlson JM. Spirituality, Rehabilitation and Aging: A Literature Review. Arch Phys Med Rehabil. 2004 Jul, v 85, suppl 3.
2- Baldessin A. O idoso: viver e morrer com dignidade. In: Netto MP (Org.). Gerontologia: A velhice e o envelhecimento em visão globalizada. 2002; São Paulo : Ateneu, p.496.
3- Cupertino AP e Novaes C. Espiritualidade e Envelhecimento Saudável. In:CALDAS, Célia Pereira (Org.) Saúde do idoso: a arte de cuidar. 2. ed, 2004, Rio de Janeiro : Interciência, 399 p.
4- Faria JB e Seidl EMF. Religiosidade, enfrentamento e bem-estar subjetivo em pessoas vivendo com HIV/AIDS. Psicologia em Estudo, Maringá. 2006 Jan/abr, 11 (1) : 155-164.
5- Frankl VE. Psicoterapia e sentido da vida. 4ed. 2003, São Paulo : Quadrante.
6- Molzahn, AE. Spirituality in Later Life: Effect on Quality of Life. J Gerontol Nurs. 2007 Jan; 33 (1) : 32-39.
7- Sommerhalder C & Goldstein LL. O Papel da Espiritualidade e da Religiosidade na vida adulta e na Velhice. In: Freitas, Py, Neri, Cançado, Gorzoni e Rocha. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2ed. 2006, Guanabara Koogan : Rio de Janeiro, p 1307-1315.

domingo, 2 de novembro de 2008

A IMPORTÂNCIA DA FÉ NA SUPERAÇÃO DE DIFICULDADES

Introdução
No transcorrer da vida, existem períodos de bem-estar, estabilidade, no qual se está em meio de situações de crescimento, aprendizado e desenvolvimento. São as chamadas fases produtivas da vida nas quais as pessoas não relatam momentos de crise ou situações problemáticas específicas. Nesses períodos, há disponibilidade e condições, ditas ideais, para superação de pequenas dificuldades e dar conta das tarefas diárias.
Invariavelmente, esses períodos se alternam com outros de desconforto, instabilidade e maiores dificuldades no cotidiano. Esses últimos podem ser decorrentes de doenças, acidentes ou perdas, que demandam uma energia vital extra para enfrentar agruras (internas e/ou externas) e se readaptar frente situações estressantes.
Diante desses momentos de dificuldade, as pessoas, de modo geral, buscam uma maneira de se apoiarem em "algo" maior que as sustentem. Nessa perspectiva, pode-se afirmar que esse apoio, geralmente, vem da fé/espiritualidade, ou religiosidade, e cada pessoa aciona isso à sua maneira. Pode-se dizer, com tranquilidade, que a espiritualidade-fé/religiosidade, não são instrumentos para as pessoas se livrarem de problemas e sofrimentos que a vida impõe. Se for assim encarada e vivenciada, a favor de uma exclusão dos aspectos ruins da vida, pode gerar desequilíbrios, evitação e até fobia (TRENHOLM et al., 1998).
Redimensionamento, Enfrentmento e Religiosidade
O que a espiritualidade-fé/religiosidade parecem favorecer, é um redimensionamento do problema, alterando a forma de encará-lo e um estímulo para adotar estratégias saudáveis para o enfrentamento de situações adversas.
Alguns autores definem religiosidade como atributos relativos a uma religião específica, diferenciando-a da espiritualidade.
Lukkof (1992), define a religiosidade como adesão a crenças e a práticas relativas a uma igreja ou instituição religiosa organizada; e espiritualidade como sendo uma relação estabelecida por uma pessoa com um ser ou força superior na qual ela acredita.
Já para Spilka e Mcintosh (1996), a religiosidade inclui aspectos individuais e institucionais, enquanto a espiritualidade é um fenômeno apenas individual, identificado com aspectos como transcendência pessoal, sensibilidade “extraconsciente” e fonte de sentidos para os eventos da vida.
Uma pessoa religiosa pode ser definida como sendo aquela que possui crenças religiosas e que valoriza, em alguma medida, a religião como instituição. Já uma pessoa espiritualizada é aquela que acredita, valoriza ou tem devoção a algum poder considerado superior, mas não necessariamente, possui crenças religiosas ou é devoto de alguma religião institucionalizada (Worthington, Kurusu, McCullough, 1996).
O modelo teórico de estresse e enfrentamento denominado Modelo Interativo do Estresse, define enfrentamento como “esforços cognitivos e comportamentais voltados para o manejo de exigências ou demandas internas, que são avaliadas como sobrecarga aos recursos pessoais”. De acordo com esse modelo, a seleção das respostas de enfrentamento diante de situações estressantes sofre a mediação de avaliações cognitivas (Folkman, Lazarus, Gruen & De Longis, 1986, p. 572). Pargament (1997), também defende a importância em se considerar que os eventos são enfrentados pelas pessoas de acordo com os significados que têm pra si. O que torna uma experiência estressante, não é o evento em si, mas as avaliações que as pessoas fazem da situação.
Corroborando com essa afirmativa, Lazarus & Folkman (1984), afirmam que o estresse é uma variável múltipla e um inevitável aspecto da vida. O que diferencia as pessoas é a maneira como manejam o estresse, processo conceituado como coping (palavra inglesa sem tradução literal em português, podendo significar "lidar com", “manejar”,"enfrentar" ou "adaptar-se a"). Estratégias religiosas de coping foram verificadas por Siegel & cols. (2001) especialmente diante de situações de crise, tais como: problemas relacionados à saúde e ao envelhecimento, tipos doença, incapacidades e morte; por Park & Cohen (1993) em casos de perda de entes queridos e guerras (Pargament & cols., 1994). Estas estratégias podem ser classificadas em positivas e negativas, conforme as conseqüências que trazem para quem as utiliza.
É difícil distinguir quando a religiosidade é ajuda ou obstáculo ao alcance de resultados adaptativos no processo de enfrentamento (Pargament et al, 1998).
No âmbito da promoção da saúde e prevenção das doenças, Dull e Skokan (1995), afirmam que as crenças religiosas tanto podem favorecer a adoção de comportamentos saudáveis, como a não adesão a prática preventivas, devido ao desenvolvimento de um otimismo irrealista de proteção Divina, ou seja, se tenho fé, Deus está me protegendo. Em relação à enfermidades já instaladas, a religiosidade permite à pessoa atribuir significados aos eventos, compreendendo-os como parte de um propósito ou projeto mais amplo, partindo-se da premissa de que nada ocorre ao acaso e que acontecimentos da vida são determinados por um Ser superior.
Ao revisar a literatura sobre prevalência de enfrentamento e religiosidade, Pargament (1997) concluiu que nem todas as pessoas usam estratégias relativas à religiosidade em seu processo de enfrentamento, sendo mais propensas a utilizá-las aquelas cujas crenças e práticas religiosas são parte relevante de seus valores e orientação geral no mundo.
No entanto, a religiosidade e a espiritualidade desde sempre, têm sido consideradas importantes aliadas das pessoas que sofrem e/ou estão doentes.
Segundo a definição de Ross (1995) acerca da dimensão espiritual, esta depende de três componentes: necessidade de encontrar significado, razão e preenchimento na vida; necessidade de esperança/vontade para viver; necessidade de ter fé em si mesmo, nos outros ou em Deus. A necessidade de significado é considerada uma condição essencial à vida e, quando um indivíduo se sente incapaz de encontrar um significado, sofre em função de sentimentos de vazio e desespero.
Assim, o construto espiritualidade/ religiosidade tem um valor intrínseco e oferece um referencial de significados para o enfrentamento nas situações de dificuldades.
____________________________
Referências Bibliográficas
DULL, V T & SKOKAN L A. A cognitive model of religion’s influence on health. Journal of Social Issues, 51, 49-64.
FARIA, J B; SEIDL E M F. Religiosidade e enfrentamento em contextos de saúde e doença: revisão da literatura. Psicologia: reflexão e crítica, 2005, 18(3), pp 381-389.
FLECKª, M P A; et al. Desenvolvimento do WHOQOL, módulo espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais. Revista Saúde Pública 2003;37(4):446-55.
LAZARUS R S & FLOKMAN S. Stress, appraisal, and coping. New York: Springer, 1984.
LUKOFF, D. Toward a more culturally sensitive DSM-IV (psychoreligious and psycospiritual problems). The journal of nervous and mental disease, 180, 673-682; 1992.
PARGAMENT, K I. The psychology of religion and coping: theory, research, pratice. New York, USA: The Guilford, 1997.
ROSS L. The spiritual dimension: its importance to patients. health, well-being and quality of life and its implications for nursing practice. Int J Nurs Stud 1995;32:457-68.
SIEGEL, K; ANDERMAN, S J & SCHRISMSHAW, E W. Religionand coping with health-related stress. Psychology an health, 16, 631-653; 2001.
TRENHOLM, P.; TRENT, J.; COMPTON, W. C. Negative religious conflict as a predictor of panic disorder. Journal of Clinical Psychology, v. 54, n. 1, p. 59-65, 1998.
WITTER, G. P. Religiosidade: 43 anos de história de um exercício de pesquisa. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE). Vol II número I. jan/jun 2007; 139-163.
WORTHINGTON, Jr E L; KURUSU, T A; & McCULLOUGH, M E. Empirical research on psychotherapeutic processes and outcomes: A 10- year review and research prospectus. Psychological Bulletin, 119, 448-487, 1996.

sábado, 1 de novembro de 2008

  • Saúde Mental e Religiosidade no Idoso


    1. Introdução
    Ë cabível iniciarmos nosso estudo direcionando a uma questão a como um indivíduo que segue por mudanças drásticas aos longos dos anos, vindo em nossa mentes a seguinte questão: quantos anos tem um idoso?
    Townsend (2002) relata-nos que nossos ancestrais pré-históricos provavelmente tiveram um período de vida de 40 anos, com uma taxa média de vida em torno de 18 anos. Conforme a civilização se desenvolveu, as taxas de mortalidade permaneceram elevadas, como resultado de fome periódica e freqüente desnutrição. Desde aquele período, os suprimentos alimentares assegurados, as mudanças na produção de alimentos, as melhores condições de habitação e as instituições clínicas e sanitárias mais progressistas contribuíram para o crescimento populacional, para o declínio das taxas de mortalidade e para um importante aumento na longevidade.
    Partindo deste principio podemos dizer que a idade de um idoso poderá ser definida como sendo um número. Os mitos observados frente o envelhecimento dificultam a compreensão sobre a velhice e claro, sobre processos que envolvem o envelhecimento.
    Questões emocionais e mentais aumentam ao longo do ciclo da vida, sendo a depressão prevalente, daí por diante o idoso se apega a religiosidades, esta nem sempre bem vivenciadas de forma correta, comprometendo o real valor emocional.

    2. Saúde Mental no Idoso X Religiosidade
    As pessoas são únicas em seus processos físicos e psicológicos de envelhecimento, assim como são influenciadas pela sua predisposição ou resistência à doença; pelos efeitos do seu ambiente externo e dos comportamentos, de sua exposição ao trauma, infecções e doenças passadas e pela prática de saúde e doença que elas adotaram durante o seu ciclo de vida (Leventhal, 1991).
    Dentre varias mudanças normais, que acometem o processo de envelhecimento, como é o caso das mudanças biológicas como algumas observadas na pele, na respiração, no sistema cardiovascular, entre outras, atentaremos para as mudanças do sistema nervoso. Ao que se sabe o cérebro tem uma enorme reserva, é algumas funções são prejudicadas ao longo da vida.
    Segundo (Murray & Zentner, 1997) com o envelhecimento, ocorre uma absoluta perda dos neurônios o que correlaciona com a diminuição do peso do cérebro em torno de 10 por cento, por volta da idade de 90 anos. Um grosseiro exame morfológico revela atrofia geral dos lobos frontal, temporal e parietal, alargamento do sulco, e hipertrofia ventricular. Haja visto estas transformações cerebrais, fica evidenciado o percurso pelo qual a mente de um idoso passa para que se desenvolva tantas mudança em seu trajeto de vida.

    “ Kaplan, Sadock e Grebb (1994) citam que uma série de fatores de risco psicossocial predispõem o idoso a distúrbios mentais. Esses fatores incluem a perda dos papéis sociais, a perda da autonomia, as mortes dos amigos e dos parentes, o declínio da saúde, o isolamento crescente, as restrições financeiras e a diminuição do funcionamento cognitivo.”

    Os distúrbios mais observados são:
    Demência (do tipo Alzheimer, esta de curso progressivo com comprometimento cognitivo)
    Delírio (incluindo doença cerebral estrutural, redução da capacidade de regulação homeostática, comprometimento da visão e da audição, redução de resistência ao stresse agudo e também a farmacodinâmica das drogas relacionadas à idade)
    Distúrbios depressivos (doenças do afeto, esta tem sua incidência aumentada nesta população, pois são influenciadas por variáveis de doenças físicas, incapacidade funcional e perdas especiais.
    Esquizofrenia (de curso crônico, se demonstra de forma ilusória evoluindo até a idade mais senil.

    “Segundo Kaplan e Sadock (1998) a fragilidade do sistema nervoso autônomo nas pessoas idosas pode ser responsável pelo desenvolvimento da ansiedade após um grande estressor. Em razão da concorrente incapacidade física, as pessoas idosas reagem mais intensamente ao distúrbio de estresse pós-traumático quando comparados às pessoas jovens.”

    Distúrbio do sono (extremamente comuns nas pessoas idosas, algumas causas incluem a diminuição da capacidade de dormir relacionada à idade, aumento da prevalência de apnéia do sono, depressão, ansiedade, demência, dor, mobilidade física comprometida, medicamentos e alguns fatores psicossociais como solidão).
    E nesta faze que o idoso se entrega há fatores que mais lhe chamam a atenção, talvez como fuga da realidade, como uma religião por exemplo. O problema é como a religião é vivenciada por esta população. Desta forma a religiosidade acaba não sendo vivenciada da forma mais correta e sim de forma fanática, produzindo efeito inconstante entre o que se pode e o que se deve viver frente ás religiões. A fé credibilizada pelos adultos idosos conota-se de forma questionada, pois Fé não é só ter esperança, acreditar ou de alguma forma esperar que algo aconteça, mas fé é saber, é ter certeza absoluta! E talvez seja esta certeza em absoluto que faz com que seja desnorteado o pensamento de tantos, levando em consideração o envelhecimento torna-se cultuado a fragilidade emocional destes, haja visto que tantos idosos adentram instituições manicomiais de longa permanência, com diagnóstico de esquizofrenia, depressão. Após uma avaliação mais direcionada observa-se alguns sinais e sintomas, como exemplo: quadros incesantes de demonstrações reliogiosas, algumas senhoras e senhores se detém a fazer orações por horas com os joelhos já calejados sobre o chão empedrado. Em alguns momentos fico atenta, ao ouvir lhes dizer que: aguardam anciosos pela busca, pois aqui não é o local certo para que tais vivam eles citam ainda que a passagem já se encerrou, e acabam questionando em suas orações, ao Deus cultuado por eles, já em momentos que diria eu, mais angustiador e aflito, o por que da demora no resgate???. Em alguns momentos eles se debatem e acabam por se jogarem ao chão de forma brusca e choram angustiando ainda mais o momento.
    Acredito que para nós, indivíduos que contemplamos plenitude mental a fé não perdeu o seu significado, porém para aqueles que caminharam por uma estrada, que os fizeram vivenciar por tempos, religiosidades de forma fanática e estravagante, estes talvez se transformem em adultos idosos debilitados mentalmente, pelas próprias questões que a ciência explica quanto a fragilidade emocional vivenciada pelos nossos idosos atualmente.
    Em Hebreus 11:1 diz: "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam." Portanto, a fé encarada pelos religiosos deverá ser vista como algo bastante concreto baseada em um firme fundamento.

    _________________________________________________________________________


    3. Referências Bibliográficas
    Kaplan, H.I., Sadock, B.J.,&Grebb,J.A. Sinopsis da psiquiatria. 5 Edição, Guanabara Koogan Editora, 1994.
    Murray, R.B., Zentner, J.P., Promoção de estratégias para a vida através da avaliação assistência saudável. 3 Edição, Guabara Koogan Editora, 2003.
    Townsend, M. C., Enfermagem Psiquiatrica – conceitos de cuidados. 3 Edição, Guanabara Koogan Editora, 2002.

    Enfermagem Gerontologica e Geriatrica
    Prof. Dr. Vicente Paulo
    Enfermeira Leuda Rodrigues
    UCB - Mestrado em Gerontologia
    01/Novembro/2008