terça-feira, 9 de dezembro de 2008

ENVELHECER: UMA QUESTÃO DE ATITUDE

Virginia Satuf Silva Vieira.

“O mundo sofre de infantilismo. Em parte, a culpa é da publicidade.
Para ela, o homem ideal é um jovem ou quem sabe uma criança de peito.
Em troca, se envergonha dos velhos que, em outras épocas,
simbolizavam experiência e sabedoria”.
Milan Kundera

José Geraldo de Brito Filomeno definiu assim o que seria cidadania: "Poderíamos conceituar cidadania como a qualidade de todo ser humano, como destinatário final do bem comum de qualquer Estado, que o habilita a ver reconhecida toda gama de seus direitos individuais e sociais, mediante tutelas adequadas colocadas à disposição pelos organismos institucionalizados, bem como a prerrogativa de organizar-se para obter esses resultados ou acesso àqueles meios de proteção e defesa."
Entende-se como cidadania o ato de comprometer-se com os valores universais da Liberdade e da Vida condicionados pela Igualdade. A cidadania pressupõe o desenvolvimento de valores éticos que se objetivam nas seguintes virtudes cívicas: solidariedade, tolerância, justiça e valentia cívica, engendradas na relação da vida pública e vida privada.
No caso específico do idoso a dimensão de liberdade e conseqüentemente, o exercício da cidadania, depende da criação de condições favoráveis à manutenção de seu poder de decisão, escolha e deliberação. Tais condições serão efetivadas quando a sociedade perceber que precisa mudar seu comportamento em relação ao envelhecimento.
Infelizmente, como afirma Simone de Beauvoir, a classe dominante adota a posição cômoda de não considerar os velhos como homens: "se lhe ouvíssemos a voz, seríamos obrigados a reconhecer que é uma voz humana. "Na etapa da velhice, é comum observarmos que as pessoas que cercam o idoso, freqüentemente têm atitudes que contribuem para que ele vá perdendo a sua autonomia. Uma das piores formas de exclusão do idoso é seu isolamento em casa ou seu asilamento e na maioria das vezes a família, seguida pela sociedade e o Estado, aparece como principal responsável pela expropriação da autonomia do idoso.
O que ocorre é que muitas pessoas tem dificuldade em perceber que a velhice é mais que uma simples seqüência de anos e acontecimentos. A vida do idoso não se resume ao tempo de sua juventude, não se resume às suas lembranças. A vida do idoso continua e sua história pessoal se cruza com as histórias de outras pessoas, independente da idade. Assim, "o homem não está no tempo é o tempo que está no homem."
Não se fica velho aos 60 anos. O envelhecimento é um processo natural que ocorre ao longo de toda a experiência de vida do ser humano, por meio de escolhas e de circunstâncias. O preconceito contra a velhice e a negação da sociedade quanto a esse fenômeno colaboram para a dificuldade de se pensar políticas específicas para esse grupo. Ainda há os que pensam que se investe na infância e se gasta na velhice. Deve ser um compromisso de todo gestor em saúde compreender que, ainda que os custos de hospitalizações e cuidados prolongados sejam elevados na parcela idosa, também aí está se investindo na velhice “Quando o envelhecimento é aceito como um êxito, o aproveitamento da competência, experiência e dos recursos humanos dos grupos mais velhos é assumido com naturalidade, como uma vantagem para o crescimento de sociedades humanas maduras e plenamente integradas” (Plano de Madri, Artigo 6º).
O Brasil envelhece de forma rápida e intensa. No Censo de 2000, contava com mais de 14,5 milhões de idosos (IBGE, 2002), em sua maioria com baixo nível socioeconômico e educacional e com uma alta prevalência de doenças crônicas e causadoras de limitações funcionais e de incapacidades (Lima-Costa et al, 2003; Ramos, 2002). A cada ano, 650 mil novos idosos são incorporados à população brasileira (IBGE, 2000). Essa transição demográfica repercute na área da saúde, em relação à necessidade de (re)organizar os modelos assistenciais (Lima-Costa & Veras, 2003). A maior causa de mortalidade entre idosos brasileiros é o acidente vascular cerebral (Lima-Costa et al., 2000). Na transição epidemiológica brasileira ocorrem incapacidades resultantes do não-controle de fatores de risco preveníveis (Lima-Costa et al., 2003).
Uma importante conseqüência do aumento do número de pessoas idosas em uma população é que esses indivíduos provavelmente apresentarão um maior número de doenças e/ou condições crônicas que requerem mais serviços sociais e médicos e por mais tempo (Firmo et al, 2003). Isso já pode ser notado, uma vez que a população idosa, que hoje representa cerca de 9% da população, consome mais de 26% dos recursos de internação hospitalar no SUS (Lima-Costa et al, 2000). Além disso, é notável a carência de profissionais qualificados para o cuidado ao idoso, em todos os níveis de atenção. Outro fato importante a ser considerado é que saúde para a população idosa não se restringe ao controle e à prevenção de agravos de doenças crônicas não-transmissíveis. Saúde da pessoa idosa é a interação entre a saúde física, a saúde mental, a independência financeira, a capacidade funcional e o suporte social (Ramos, 2002).
Nos últimos 60 anos, o número absoluto de pessoas com 60 anos ou mais de idade aumentou nove vezes (Beltrão, Camarano e Kanso, 2004). Não só a população brasileira está envelhecendo, mas a proporção da população “mais idosa”, ou seja, a de 80 anos ou mais de idade, também está aumentando, alterando a composição etária dentro do próprio grupo. Significa dizer que a população idosa também está envelhecendo (Camarano et al, 1999). Em 2000, esse segmento representou 12,6% do total da população idosa brasileira. Isso leva a uma heterogeneidade do segmento idoso brasileiro, havendo no grupo pessoas em pleno vigor físico e mental e outras em situações de maior vulnerabilidade (Camarano et al, 2004).
O envelhecimento é também uma questão de gênero. Cinqüenta e cinco por cento da população idosa são formados por mulheres. A proporção do contingente feminino é tanto mais expressiva quanto mais idoso for o segmento. Essa predominância feminina se dá em zonas urbanas. Nas rurais, predominam os homens, o que pode resultar em isolamento e abandono dessas pessoas (Camarano et al, 2004; Camarano et al, 1999; Saad, 1999).
Cumpre notar que os idosos são potenciais consumidores de Serviços de Saúde e de Assistência. Esse grupo sabidamente apresenta uma grande carga de doenças crônicas e incapacitantes, quando comparado a outros grupos etários (Lima-Costa et al, 2003a; Lima-Costa et al, 2003b; Caldas, 2003). Disso resulta uma demanda crescente por serviços sociais e de saúde (Lima-Costa & Veras, 2003).
Incapacidade funcional e limitações físicas, cognitivas e sensoriais não são conseqüências inevitáveis do envelhecimento. A prevalência da incapacidade aumenta com a idade, mas a idade sozinha não prediz incapacidade (Lollar & Crews, 2002). Estudos brasileiros de base populacional em idosos apontam a existência de incapacidade entre idosos em cifras que variam de 2 a 45% dos idosos (Giacomin et al., 2005; Duarte, 2003; Lima-Costa, 2003; Rosa et al; 2003), dependendo da idade e do sexo.
Assim, torna-se imprescindível incluir a condição funcional ao se formularem políticas para a saúde dos idosos e responder, prioritariamente, às pessoas idosas que já apresentem alta dependência.
Envelhecer, portanto, deve ser com saúde, de forma ativa, livre de qualquer tipo de dependência funcional, o que exige promoção da saúde em todas as idades.
Com a perspectiva de ampliar o conceito de “envelhecimento saudável”, a Organização Mundial da Saúde propõe “Envelhecimento Ativo: Uma Política de Saúde” (2005), ressaltando que o governo, as organizações internacionais e a sociedade civil devam implementar políticas e programas que melhorem a saúde, a participação e a segurança da pessoa idosa. Considerando o cidadão idoso não mais como passivo, mas como agente das ações a eles direcionadas, numa abordagem baseada em direitos, que valorize os aspectos da vida em comunidade, identificando o potencial para o bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da vida.
Todo profissional deve procurar promover a qualidade de vida da pessoa idosa, quando chamado a atendê-la. É importante viver muito, mas é fundamental viver bem. Preservar a autonomia e a independência funcional das pessoas idosas deve ser a meta em todos os níveis de atenção.
Ficam estabelecidos, portanto, os dois grandes eixos norteadores para a integralidade de ações: o enfrentamento de fragilidades, da pessoa idosa, da família e do sistema de saúde; e a promoção da saúde e da integração social, em todos os níveis de atenção.
Entre a política do “aparthied”, do racismo ilimitado dos anos 60 nos EUA e a eleição histórica do primeiro presidente negro do referido país, já se passaram 48 anos. Quanto tempo será necessário esperar até que políticas de atenção ao idoso possam sair do papel e virem a se concretizar?
Hoje, após esta imersão no universo do idoso através do Mestrado de Gerontologia da UCB,e pela rica experimentação das vivencias profissionais dos professores Vicente e Liz, somadas ainda a intensa troca de idéias e pensamentos das alunas desta cadeira especifica ,oriundas de diferentes áreas da saúde, tenho a certeza de que muito poderemos realizar,de forma multidisciplinar no cuidado e atenção do idoso. Mesmo neste micro-sistema no qual estamos inseridos, em nossas atividades básicas diárias de atuação, dependerá somente de nossas iniciativas e ações, fazer a diferença deste contexto. Atitude já!! Vamos a luta!!.

“O tempo não faz concessões”.(Rachel de Queiroz)

Bibliografia
BEAUVOIR, Simone de. A Velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1990.
BRITO FILOMENO, José Geraldo. Manual de Teoria Geral do Estado e Ciência Política. São Paulo: Forense Universitária. 1999
Envelhecimento, ética e cidadania
Pérola Melissa Vianna Braga 08.2001.

PORTARIA Nº 2.528 DE 19 DE OUTUBRO DE 2006.
Aprova a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A MORTE
INTRODUÇÃO
A morte é um processo natural que ocorre ao longo da vida. Segundo Burlá, (2006), Os seres humanos merecem morrer com seus entes queridos próximos com conforto e em um ambiente tranqüilo. É preciso que profissionais de enfermagem tenham atuação e postura humanizada diante do paciente com doença crônica. A crença de que existe vida após a morte pode confortar o paciente diante da morte ou por outro lado deixá-lo temeroso. Conforme Becker, (1995) o medo da morte deve estar presente, com a finalidade de manter o organismo mobilizado para a autopreservação, mas não pode ser intenso na mente do individuo, caso contrário isso implicaria no impedimento do funcionamento do organismo.
Biologicamente, a morte é um evento que finda uma vida. Ocorre quando um órgão essencial deixa de realizar funções vitais. Segundo Lunardi et al, (2001), a morte é um evento capaz de despertar tantos sentimentos no indivíduo que está morrendo quanto nos que estão à sua companhia.


METODOLOGIA
Para este estudo realizou-se uma revisão da literatura no período compreendido entre 1977 a 2008, buscando as referências específicas sobre o tema em base de dados e periódicos científicos da área de saúde.

O significado da morte
Diante da possibilidade da própria morte ou de um ente querido, buscam-se várias formas de tratamento ou orações religiosas. Para Silva, et al, (1998), esse processo de morte seja de si próprio ou de outrem, passa por estágios emocionais bem definidos: negação raiva, barganha, depressão e aceitação. Entretanto, esse processo é particular ao indivíduo e nem todos passam por todos os estágios ou demonstram características comportamentais associadas a eles.
A morte é uma certeza para cada ser vivo, mas muitas pessoas vivem como se fossem eternos, se constituindo um grande mistério a sua atitude diante da mesma porque o homem não imagina a sua, apenas a do outro. Oliveira, (1992), diz que o homem é o único animal que sabe que vai morrer.
Segundo Starzewski Júnior, et al, (2005), existe a morte má e a morte boa, que exalta toda sua vida passada e tem a pessoa como quem fez muito pelos outros, a morte alegre, que não é enxergada como o fim de tudo, e a morte triste, a morte estúpida, sem nenhum significado, e a morte humana, com dignidade. Pires, (2004), apontam que muito do que se sabe sobre a antiguidade, a arte e a poesia ao longo de tantos séculos, depende da forma como os homens lidaram com a morte e suas tentativas de explicá-la.
Ao que parecem, todos escondem a possibilidade de o doente morrer, criando um clima de segredo, iludindo-o e às vezes o mesmo percebe que lhe escondem algo e teme pelo pior. Segundo Lahud (1993 p.214), “enquanto algumas pessoas tentam eufemizá-la, outros se apavoram diante dela”. Papaléo Netto,(1996), relata que na cultura ocidental a morte é excluída dos nossos pensamentos para que nada nos lembre a morte e o morrer.
Loureiro (2000 p.106) observa que “existe uma relação estreita entre a individualidade do homem e o seu horror pela morte, relação também constatada entre o grau de individualidade conseguida pelo homem e o tipo de sociedade em que vive.”
A consciência da morte e a reflexão que ela provoca estão nas raízes das filosofias e das religiões e movem a ciência aplicada à medicina a prolongar a vida humana, com melhor qualidade (LANNES, 2004). Para Lahud (1993 p.214), “na morte o indivíduo se acha só consigo mesmo e com sua realidade finita”. A morte é parte integrante de nossa vida, apesar de ser um mistério porque sempre sofremos diante da perda de um ente querido, mas é uma oportunidade de rever valores, perdoar e compreender.


A morte na atualidade
Atualmente, morre-se nos hospitais, tido como o local adequado para a morte. Esta morte é vista como diagnósticos médicos errados, não resolvidos ou casos negligenciados, e não como pessoas que findam o seu tempo de vida corporal. Starzewski Júnior, et al, (2005), nos informa que antigamente as pessoas morriam em casa, rodeadas de suas famílias e amigos, dando as últimas ordens e dispondo de suas últimas vontades.
Cuidando diariamente de pessoas em sofrimento na possibilidade de morrer a qualquer momento, surgem sentimentos contraditórios na equipe, devido ao fato de se estar em contato prolongado com o paciente e pelo desgaste físico e emocional. Torres, et al, (1989), refere que é preciso que se reformulem os currículos dos cursos de enfermagem para que haja um treinamento para comportamento diante da morte, e ocorra uma mudança de atitudes.
O abandono, solidão e carência afetiva levam idosos a desenvolver doenças somatizadas que podem levá-lo à depressão.
Há diferentes maneiras de lidar com a morte no dia a dia dos hospitais. Por isso é preciso compreender em que circunstâncias ocorrem e o que pode favorecer uma assistência humanizada. Pitta (1990), destaca que os enfermeiros seguem rigorosamente normas e condutas com objetivos de salvar vidas e evitar a morte e que quando acontece, pode causar um estado de frustração, pois ver o corpo de um paciente que se prestou cuidados se dedicou tempo e carinho é algo difícil de conviver.
Silva, et al, (2007), coloca que com o passar dos anos somos levados pelo próprio processo de viver, envelhecer e a enfrentar uma série de perdas significativas, como a morte de parentes e amigos.
As reações ao processo de perda por morte são manifestadas de maneira diferenciada entre as pessoas e dependem de várias situações que circundam a morte, como o tipo de relacionamento que existia, a idade, a doença prolongada, a força e a fé. Kubler-Ross, (2000) afirma que “a morte de quem se gosta provoca rupturas profundas, requerendo ajustamentos no modo de se perceber o mundo e de se fazer planos para continuar vivendo nele”.
Papaléo Netto, (1996), afirma que os idosos nos mostram as faces da vida e da morte, do tempo e da eternidade, do vigor e da fraqueza, do plantar e do colher, da grandeza e da limitação do ser humano.
Lima Júnior (2001) destaca que, até recentemente, os testes utilizados no diagnóstico de morte eram palpar o pulso e auscultar o coração e os pulmões, ou tão somente segurar um espelho junto ao nariz para confirmar a ausência de respiração através da falta de condensação no espelho. Atualmente se dispõem de aparelhos de última geração capazes de executar funções orgânicas com objetivo de prolongar a vida, como os respiradores e os hemodialisadores que substitui o rim.
Py & Trein, (2006) evidenciam que a condição de ignorar a finitude humana dificulta a relação do homem com a morte. Apesar da negação que existe em torno da realidade da morte nas unidades hospitalares, o idoso na cena de morte se submete ao desejo do outro.
Muitos idosos sofrem calados e conformados e são da mesma forma, excluídos da sociedade e, além disso, são rotulados como conformados, insistentes, fortes e coitados. Monteiro, (2001), refere que o cuidado ao idoso, além dos cuidados da artrose, do diabetes, da hipertensão, deverá incluir exercícios para mudar o modo de pensar a vida na velhice.
Conforme Smeltzer & Bare, (2006), no hospital, a morte muitas vezes é esperada, onde se tem como objetivo manter a pessoa que está à beira da morte, o mais livre possível de sofrimento e dor e levadas a ter uma morte com dignidade, num ambiente de tranqüilidade e paz.
Burlá (2006) relata que “Neste processo tem surgido novas condições clínicas, específicas de pessoas mais velhas, e novas ‘formas de morrer”. Já não se morre mais em casa, rodeado pelos amigos e parentes como outrora, mas no hospital, sozinho (ARIÈS, 1977). E os pacientes são condenados a internação por meses ou até anos de vida vegetativa, ligados a tubos e aparelhos, usados como instrumentos de desafio à morte. A civilização ocidental passa então a esconder a morte, evitando falar sobre ela. Como conseqüência, a atitude mais adequada para lidar com a morte de um ente querido seria fingir que nada aconteceu, que nada mudou, contribuindo, dessa forma, para o medo diante da morte, do desconhecido.
Quanto aos familiares e amigos, não lhes é permitido sofrer em público. Beauvoir (1990) relata que com a desculpa dada pelos outros de que precisamos ficar sozinhos para lidarmos com a perda e se choramos e sofremos por muito tempo as pessoas nos orientam a procurar um psiquiatra.
Neri & Sommerhalder (2002) lembra que nas cidades grandes temos pouco tempo e espaço para cultivar relacionamentos ou pensar sobre o sentido da velhice e da morte. Alves (2006) comenta que “a vida longa é um prêmio” e o idoso apesar dos problemas que enfrenta quer viver mais e plenamente, como prêmio por ter lutado ao longo de sua vida

A morte negada
Conforme a teoria do imaginário explicita, a preocupação de toda pessoa é a angústia do passar do tempo e o medo da morte. A história humana pode ser contada de acordo com a sociedade que vivenciou a morte em diferentes períodos; diferentes tempos e espaços, pois a cultura influencia assim como são marcadas no tempo.
Buscam-se fórmulas novas para retardar o envelhecimento, vendem-se ilusões de resgatar a juventude por meio de cosméticos e cirurgias plásticas, mas inevitavelmente chegará o momento que nada será suficiente para evitar a morte. Loureiro (...) lembra que o homem sabe que é mortal, mas inconscientemente se comporta imortal, pensa que quem morre é o outro e se esquece que a única certeza que temos é a da morte. Loureiro (2004) relata que todos se preocupam com a proximidade da morte, fazendo-os buscar formas de vencer o tempo. Imaginam-se eternos mesmo sabendo serem finitos. Surge então o imaginário, uma arma dada para o homem vencer o tempo e a morte de acordo com hábitos e costumes culturais das sociedades.



O comportamento diante da morte
Ariès (1977) historiador francês estudou a morte por 15 anos de sua vida. Segundo o mesmo, as mudanças de comportamento relacionadas à morte são muito lentas, com longos períodos de estabilidade. Segundo ele, nas sociedades primitivas, a morte era domada, Isto é, pensava-se que o moribundo sabia que ia morrer. E ninguém morria sem ser avisado por alguém ou por convicção, pressentimento.
Ariès (1977) relata que a partir do século XVIII, a morte se tornou dramática passando a ser encarada como se o homem tivesse sua vida roubada de si e de sua família, iniciando assim o culto aos cemitérios e luto exagerado colocando a família como personagem principal, quando não se temia a própria morte, mas a do outro. A partir do século XX, mais precisamente em meados de 1930, a morte foi se tornando um tabu, em que os familiares escondiam do moribundo sua real gravidade. E a morte se mudou para os hospitais.
E o autor denomina essa representação da morte de morte invertida, por ocorrer uma inversão nas características da morte, nas quais ela necessita passar despercebida, não sendo mais considerado um fenômeno natural do ser vivo, e sim, um fracasso. Tal representação leva a uma negação, a uma não aceitação da morte e a uma falsa sensação de que viveremos eternamente, aumentando, assim, o medo diante da morte.
A morte é uma certeza para cada ser vivo, mas muitas pessoas vivem como se fossem eternos, se constituindo um grande mistério a sua atitude diante da mesma porque o homem não imagina a sua morte, apenas a do outro. O paciente tem receio da circunstância que será a sua morte.
Burlá (2006) observa que o paciente tem medo da dor, de morrer só ou de incomodar seus familiares, de ser enterrado vivo e lembra-se da importância de conversar com ele e ouvir suas expectativas, porque, existe um medo maior de como será o processo de morrer do que com a morte propriamente dita.
A dor é um desconforto singular que varia de pessoa para pessoa e que se converte em medo da morte. A doença grave é sempre lembrada como prenúncio da morte. Albuquerque (2003) relata que ser doente significa sofrer e sofrer significa ser passivo e sentir desconforto que varia de intensidade.
Segundo Morin (1997) só existe dor provocada pela morte se há proximidade do morto, se é íntimo, familiar, amado ou respeitado, se o morto for desconhecido não existe nenhuma ou quase nenhum sentimento de dor.
É preciso esquecer por instantes, ao menos nestes últimos instantes, a frieza do hospital ao que estão acostumadas por ofício, e condicionar, como diz Py (2004), uma presença de amorosidade ao lado de toda a eficiência e competência profissional que, na verdade, só será realmente competente e eficiente, quando ao lado de uma titulação/qualificação existir nela a humanidade e solidariedade; existir uma pessoa humana que com outro humano interage em situação desigual de vida e de morte. Entender sentimentos, costumes, cultura e crenças do ser que está morrendo sob seus cuidados são fundamentos a serem exercitados.
O homem rejeita a morte e preenche essa certeza com mitos que são pensamentos construídos pelo imaginário; Conforme Morin (2000) explica: o homo sapiens é acometido pela morte como se esta fosse uma catástrofe irremediável, que traz angústia e horror e assim ela é vista como um problema vivo.
Biologicamente, a morte é um evento que finda uma vida. Ocorre quando um órgão essencial deixa de realizar funções vitais. Segundo Lunardi et al, (2001), a morte é um evento capaz de despertar tantos sentimentos no indivíduo que está morrendo quanto nos que estão à sua companhia. Loureiro (1993), afirma que foi demonstrado em pesquisas que o medo de morrer diminui com a idade, devido a alterações dos lobos frontais do cérebro.
Metchnikoff, o primeiro grande cientista que declarou guerra à morte. Pensava em preparar soros capazes de estimular e então regenerar as células nobres do organismo, pois tais soros seriam os verdadeiros rejuvenescedores do indivíduo Segundo ele, sabendo-se que um agente tóxico manifesta uma ação estimulante se empregado em pequena dose, então propôs o emprego de soros citotóxicos. Porém ele não conseguiu descobrir a dosagem exata e teve problemas com a lei francesa com relação à pesquisa. (MORIN, 1997).
Convém nos lembrar que um único ser vivo foi capaz de sobreviver até hoje, durante dois bilhões de anos. E este ser vivo está presente em cada um de nós, em todos os seres vivos do mundo. Mas essa herança da primeira célula se deveu à sua evolução, multiplicação e mutação. Morin (1997) lembra que o ser vivo não pôde resistir à morte senão evoluindo e que evoluir significa perder algo de sua identidade. Portanto o homem só pode escapar da morte aceitando a metamorfose, ou seja, numa morte-renascimento. A velhice e a morte estão inscritas na herança genética. Portanto a velhice e a morte ocorrem em conseqüência do ciclo vital da diferenciação celular. Burlá ( 2006) afirma que “Reconhecer o processo de morrer é tão importante como dar um diagnóstico”.
A questão mais interessante da origem da vida é a origem da morte. Morin, (1997) lembra que, quanto mais especializado é um organismo vivo, mais se reduzem as possibilidades de regeneração biológica, pois apenas os tecidos vulgares são passíveis de regeneração, assim um anfíbio como os sapos podem regenerar um membro amputado enquanto que um vertebrado superior está condenado a morrer ou continuar deficiente, pois as células nervosas, que são o tipo celular mais diferenciado perdem rapidamente a capacidade de reprodução. Parece então que a morte é o preço da especialização, da perfeição.
Ariès (1977) conta que na antiguidade existia um ritual diante da morte. O moribundo era avisado por convicção ou signos naturais, que estava prestes a morrer. Então eram tomadas as providências, reunia-se a família e amigos, lamentavam, choravam e pedia perdão aos amigos e familiares, que teria de responder: “Eu te perdôo aqui e perante Deus” e inclinavam um para o outro e o moribundo recomendava a Deus os vivos e escolhia sua sepultura. Fazia uma prece composta de duas partes: a culpa – “Deus, minha culpa, por tua graça, por meus pecados...” confessa sua culpa de mãos juntas e elevadas para o céu, roga a Deus que lhe dê o paraíso. A segunda parte da prece é chamada de commendatio animae também chamadas de recommendaces: “ Verdadeiro pai, que nunca mentiste, tu que chamas de volta Lázaro de entre os mortos, tu que salvas Daniel dos leões, salva minha alma de todos os perigos...” e então recebia a absolvição sacramental , o Libera, onde incensava e aspergia água benta, pelo padre após a confissão.
Na idade média a morte era pública, enquanto que nas sociedades modernas a morte é vista como um dos maiores perigos da vida do indivíduo. Ela vai sendo empurrada para os bastidores da vida social (ELIAS, 2001).
Ariès (1977) conta que a assistência diante da morte era igual à de nascer, precisava de cuidados. A morte era esperada e cuidada com atenção. Por muitos séculos se morreu com a prática de rituais que davam ao moribundo a ilusão de continuarem ligados a esse mundo, se esquecendo da angústia diante da morte.
Segundo Kubler Ross (2000, p. 278) o paciente em fase terminal necessita de cuidados especiais, mas o mais importante é ouvi-lo e observar o moribundo em silêncio. Agindo assim pode se perceber um cessar em paz. A autora diz que: “Observar a morte em paz de um ser humano faz-nos lembrar uma estrela cadente. É uma entre milhões de luzes do céu imenso, que cintila por um breve momento para desaparecer para sempre na noite sem fim”. Sendo a morte inevitável e imprevisível, deveríamos expressar nossos sentimentos diante das pessoas que amamos. Apreciar a beleza da natureza, das flores, como se nunca mais pudéssemos vê-las novamente.

CONCLUSÃO

Mesmo fazendo parte da vida das pessoas a morte é vista como tabu, um evento assustador cercado de mistérios que dificultam a aceitação e enfrentamento. O medo da morte é cultural, pois para lidar com a angústia, todo indivíduo utiliza mecanismos de defesa para lidarem com a morte e o morrer. Atualmente a morte é vista como fracasso profissional, e não como finitude humana ou como diagnósticos médicos errados, não resolvidos ou casos negligenciados, e não como pessoas que findam o seu tempo de vida corporal.

REFERÊNCIAS
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TORRES, W.C.; GUEDES, W.G.; TORRES, R.C.; EBERT, T.H.; Atitudes frente à morte: implicações na formação de equipe profissionais multidisciplinares. Arquivos Brasileiros de Psicologia. Rio de Janeiro. V.41n.1,p.43-72. fev.1989.

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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Viuvez, morte e depressão do idoso: uma revisão de literatura

Envelhecer é fato inevitável no curso da vida, pois inicia já com o nascimento e estende-se ao longo dos anos. Independentemente do desejo ou não de ficar velho, esse processo faz parte do ciclo vital, seguindo-se ao longo do tempo e findando com a morte. A velhice traz consigo inúmeras alterações fisiológicas e comportamentais, mas o acontecimento da perda do parceiro nessa fase de vida acresce mais uma fração nessa escala de modificações (BALDIN e FORTE, 2008). Durante esse processo de envelhecimento, existem algum processos sociais, os quais os seres humanos estão sujeitos, dentre eles em grande parte está a formação familiar.
A instituição familiar está presente na sociedade desde as primeiras organizações humanas. Este fato pode ser identificado em livros antigos como a Bíblia que fala sobre a Sagrada Família. A Igreja considera a família como uma instituição permeada por valores e princípios, unidos por laços socialmente reconhecidos, que influenciaram e que ainda influenciam muitas pessoas e segmentos da sociedade; e o matrimônio, como um sacramento que exerce grande poder sobre as pessoas (TORRÊS, 2006). Para Marodin (1997), nessa sociedade de valores patriarcais, os papéis de gêneros colocam o homem em uma posição dominante e, a mulher, em posição subordinada, na qual a velhice aflora tal situação imposta. O envelhecimento tem como características ditas como “normais” ou relevantes pela sociedade, dentre elas estão as limitações físicas, perdas cognitivas, sintomas depressivos, declínio sensorial, acidentes e isolamento social. Entretanto, tem crescido o interesse em estabelecer quais os fatores que, isolada ou conjuntamente, melhor explicam o risco que um idoso tem de morrer em curto prazo, uma noção útil do ponto de vista epidemiológico e clínico. Epistemologicamente a morte vem associada com a doença física, numa concepção, em geral válida, de que as pessoas doentes morrem mais. A idade avançada traz consigo a aproximação da morte. Com o aumento dos anos de vida, a finitude é inevitável, o que se torna mais contundente com a chegada da velhice e é reforçado pela perda de pessoas próximas, como familiares, amigos (GOLDIN, 2002). Entretanto, um dos fatores que pode levar o idoso ate a morte sem doenças crônicas ou agudas prévias, pode ser a viuvez, que é definida pelos dicionários da língua portuguesa apresentam o conceito de viuvez com ênfase na solidão, desconsolo, desamparo e privação (TERSARIOL, 2000; LUFT, 2001; FERREIRA, 1999). Esta, encontra-se presente em todos os momentos de nossas vidas, desde que existam casais. Na sociedade, com a morte do companheiro, a mulher ou o homem adquire uma nova identidade social e um novo estado civil – a de viúvo ou viúva. (TORRÊS, 2006) que vem associada da depressão e como conseqüência a morte.
Dentre os fatores de risco psicossocial na depressão do idoso, segundo Araújo (2006), seriam: Morte do cônjuge ou ser querido (risco: maior no primeiro ano); Enfermidade médica ou cirúrgica. Baixa autopercepção da saúde; Incapacidade e perda de funcionalidade; Escasso suporte social; Isolamento social; Solidão; Baixa qualidade de vida; Incremento do uso dos serviços de saúde; Deterioro cognitivo; Risco de cronicidade; Maior risco de evento vascular e de mortalidade; Risco da perda funcional e de incapacidade; Alto risco de suicídio.
Segundo Gil et. al. (2004) os transtornos depressivos e ansiosos constituem os transtornos psiquiátricos mais freqüentes no idoso, e quase sempre dão lugar a conseqüências graves neste grupo etário. No início deste século, a Organização Mundial da Saúde alertava sobre os riscos que podiam apresentar os transtornos psiquiátricos como causa da falta de capacidade, e colocava uma ênfase especial nos perigos que podia apresentar a depressão e a ansiedade em populações frágeis, como os idosos. Só uma de cada três pessoas com depressão recebe um diagnóstico e tratamento adequado, e existem indícios bem fundamentados de que esta proporção é menor no caso de pessoas mais velhas. Por outro lado, as conseqüências da depressão não tratada são mais graves entre os idosos, tanto pelo deterioro funcional como pelo aumento da mortalidade, devido, em parte, ao maior risco de suicídio nos idosos.(ARAÚJO, 2006) Releva-se ainda no presente estudo, um fator anexo ao fato de envelhecer, que e determinado como suicídio, que tem seu aumento aos 65 anos, mesmo havendo uma diminuição em relação a outras décadas, ainda seguem sendo desproporcionalmente altas. O homem de 75 anos ou mais representa o maior risco de suicídio por grupo de idades. Em geral, a incidência de suicídio é maior nos homens que nas mulheres, mas esta diferença é menos marcada nos idosos em comparação à população jovem. É uma afirmação clássica que nas mulheres são mais freqüentes a tentativa consumada de suicídio, mas esta norma tampouco parece válida em pacientes mais velhos. A relação tentativa de suicídio e suicídios consumados é similar neste grupo de idade. O idoso que deseja morrer e escolhe o suicídio acaba planejando sua morte paulatinamente e não o faz impulsivamente, sendo muito menos freqüente que utilize a forma autolítica como uma forma de pressão, uma chantagem emocional ou uma chamada de atenção a sua volta. Papaléo (1996) aponta que existem diversos estudos sobre a questão e comenta que ao enviuvarem-se, as pessoas buscam por atendimento médico, internações em asilos e hospitais assim como também cresce o índice de mortalidade por doenças. Entretanto, em nossa cultura é característico que a morte seja excluída dos nossos pensamentos pelo maior tempo possível. Para Papaléo (1996) as pessoas negam-se em falar sobre esse acontecimento, temendo que aconteça principalmente no seu ambiente familiar, sejam eles mais jovens ou mais velhos – tanto o próprio esposo ou quanto a esposa. Assim sendo, a viuvez é o “estado de uma pessoa depois da morte de seu cônjuge”, e velhice relaciona-se “mas representada de formas diferentes de acordo com a cultura a qual o casal está inserido. A presença do luto na vida do ser humano é uma coisa inevitável, torna-se necessário, porém, aceitar a morte do companheiro, ainda que a saudade se torne uma constante, uma vez que permanecem as memórias inesquecíveis que ajudam a refazer, a cada dia a vida de cada um. Esse é o processo da evolução humana e também o da natureza. Viver, aliás, consiste em lidar com perdas e ganhos, respirar fundo e buscar o equilíbrio” (Dornelles, 2003, p.410).
Bibliografia


BALDIN, C.B, FORTES; Viuvez feminina: a fala de um grupo de idosas, RBCEH, Passo Fundo, v. 5, n. 1, p. 43-54, jan./jun. 2008

TÔRRES, E.M.; A Viuvez na Vida dos Idosos, Salvador. 2006

MARODIN M. As relações entre o homem e a mulher na atualidade. In: STREY, M.N(org) Mulher, Estudos de Gênero. São Leopoldo. Ed Usinos, 148p. 1997.


LUFT, C. P. Minidicionário Luft. 20. ed. São Paulo: Ática, 2001.

FERREIRA, A. B. H. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

ARAUJO S.S.C. et.al., Suporte social, promoção de saúde e saúde bucal na população idosa no Brasil , Interface, v.10, n.19, jan/jun, 2006

GIL, PEDRO et. al., Sociedad Española de Geriatría y Gerontología, Madrid, 2004.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília: Organização Pan-Americana de Saúde, 2005.


PAPALÉO-NETTO, M.; PONTE, J. R. Envelhecimento: Desafio na Transição do Século. In: PAPALÉO-NETTO, M. (Ed.). Gerontologia. São Paulo, Rio de Janeiro: Ed. Atheneu, 1996. p.3-12.

DORNELLES B, TERRA NL. (org). Envelhecimento bem sucedido: Programa Geron, PUCRS, 2 ed., Porto Alegre: Edipucrs, 536p. 2003.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Institucionalização do idoso: identidade e realidade

Institucionalização do idoso: identidade e realidade

Introdução

A decisão de morar em uma Instituição de Longa Permanencia (ILP) nem sempre parte do proprio idoso e é uma alternativa questionada por eles pela própria história de criação dessas instituições. Inicialmente criadas para abrigar pessoas pobres, muito dependentes ou desabrigados incluindo crianças, doentes mentais e idosos.
A decisão de internar o idoso numa ILP geralmente se sustenta como uma alternativa em determinadas situações como a ausência temporária de cuidador domiciliar, estágios terminais de doença, alto grau de dependência ou mesmo, a necessidade de cuidados de reabilitação.
Na maioria das vezes a institucionalização está relacionada ao grau de dependência do idoso ou da condição financeira dele e dos familiares. Uma outra parcela, mora sozinha e ao iniciar dependência são encaminhados para estas instituições pelos vizinhos ou pelo serviço social local.
Então, considerando que uma parcela da população idosa poderá apresentar alterações em várias dimensões como: biológica, funcional, psicológica, cognitiva, familiar, social, física e financeira as modalidades de assistência devem ser consideradas incluindo a Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI).
O objetivo deste trabalho é estudar as ILPIs e sua organização como uma das modalidades de assistência para idosos

Instituição de Longa Permanência para Idosos : modalidade de assistência

A parcela da população idosa que mais cresce é a de 80 anos e mais, representando hoje 2,4 milhões de pessoas no Brasil, conforme dados do IBGE (2007). E essa é a população que pode apresentar o comprometimento da capacidade funcional e necessitar da ILPI, como local para receber a assistência.
As ILPI são instituições governamentais ou não-governamentais, de caráter residencial, destinada a domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condições de liberdade e dignidade e cidadania (BRASIL, 2005).
As instituições funcionam atualmente como estruturas constrangedoras, apresentando critérios padronizados, sem expressão individual com grande risco para despersonalização do individuo. O rompimento com a estrutura familiar e social é brusco sem preparação do idoso para esta nova etapa e muitas vezes ocorre de forma enganosa. O idoso é afastado do convívio social e familiar. Falta orientação técnica aos trabalhadores, muitas vezes voluntários; nem sempre há planejamento do tratamento e registro dos cuidados propostos; não há evolução, e nem avaliação regular do idoso que necessita de cuidados especiais.
Pela Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 283/2005 as ILPIs devem se organizar de acordo com o grau de dependência dos idosos. Quanto maior a dependência e a necessidade de cuidados especiais, maior a necessidade de profissionais especializados.
O Regulamento Técnico para o Funcionamento das Instituições de Longa Permanência para Idosos – RDC n.° 283, de 26 de setembro de 2005 e o Estatudo do idoso de 01 de outubro de 2003, abordam as propostas de regularização para o funcionamento das ILPIs, com critérios, parâmetros e recursos necessários para o seu bom funcionamento, que devem ser atendidos sob pena de fechamento, de acordo com a fiscalização pela Agência de Vigilância Sanitária.
A institucionalização do idoso em consonância com as políticas de assistência prevêem um estímulo para o autocuidado, valorizando-o e melhorando a sua qualidade de vida, ainda que fora do seu ambiente familiar. É preciso garantir a eles privacidade, decisão, autonomia, orientação espacial, segurança, estimulação.
As ILPIs são moradias especializadas, que integram um sistema continuo de cuidados e devem se organizar tendo em vista a satisfação de múltiplas necessidades que os idosos apresentam como as de caráter emocional, material e espiritual para uma vida satisfatória.
Os fatores que tem levado as pessoas a recorrerem a esta modalidade de assistência são em decorrência de situações como: idosos que moram em local com situação precária e maus-tratos que comprometem o bem-estar e a vida; que possuem família disfuncional sem afeto e disponibilidade emocional; que possuem a famlia com indisponibilidade física, a de filho único, por exemplo; sem condições materiais, financeiras e sem o suporte do Estado; desenvolvimento de doenças incapacitantes e as demências tornando dificil a tarefa de cuidar e ainda os idosos sem familiares.
Cabe a equipe e aos gestores, manter alguns princípios para a assistencia humanizada como: tratar os idosos com dignidade e respeito, permitir guarda e uso de objetos pessoais, possibilitar liberdade na interação social, respeitar a prática religiosa individual, favorecer a privacidade, garantir a preservação da identidade da pessoa idosa e visar o seu continuo desenvolvimento pessoal.


Considerações Finais

O que se espera é que essas instituições sejam realmente uma moradia coletiva onde esses idosos com dependência ou não, tenham seus direitos garantidos, preservando sua autonomia e identidade e não sejam um depósito de pessoas aguardando a vida se acabar.
Nos estudos da gerontologia as Instituições de Longa Permanência para Idosos devem procurar ser uma residência, mostrando, tanto na aparência física quanto em toda a sua programação, situações e detalhes que lembrem uma casa, uma moradia, a vida numa família coletiva. Isto é, acolher e manter os idosos com condições de decisão e autonomia, mesmo respeitando as regras necessárias a um grupo de pessoas que compartilham o mesmo ambiente.

Referências

BORN, T.; BOECHAT, N. S., A qualidade dos cuidados ao idoso institucionalizado. In: FREITAS et al. Tratadode Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006

BRASIL, Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741 de 1º de outtubro de 2003

BRASIL, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Regulamento Técnico que define normas de funcionamento para as Instituições de Longa Permanência para Idosos. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC 283, 2005 set 26

DIOGO, M. J. D., Modalidades de assistência ao Idoso e àFamília: Impacto sobre a qualidade de Vida. In: FREITAS et al. Tratadode Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006

FRAGOSO, V. Humanização dos cuidados a prestar ao idoso institucionalizado. Revista IGT na Rede, v. 5, n° 8, 2008. Disponível em: < id="1053&article=" mode="pdf"> Acesso: 01 de outubro de 2008

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Morte: A dor do Cuidador

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos vem aumentando a preocupação de profissionais brasileiros de gerontologia para com o bem-estar físico e psicológico de familiares que cuidam de idosos fragilizados e de alta dependência. Cuidar de um idoso fragilizado pode ser considerado um papel normativo ou esperado na vida de um cuidador, na medida em que ele o exerce em virtude de expectativas sociais baseadas em relações de parentesco, de gênero e idade, expectativas essas típicas de seu grupo social1.
Assim como o cuidador familiar, o profissional de saúde, enquanto cuidador, é um profissional também está sob constante tensão. Seu foco de atenção objeto de trabalho é uma pessoa doente, alguém atingido na integridade física, psíquica e social; alguém que expressa sofrimento, que corre, muita vezes, risco de morte e toda mobilização que isso provoca no próprio doente, nos amigos e familiares que o cerca, exigindo do profissional resultados quantas vezes superiores à possibilidade humana de alcançá-los2.
A morte vista como o desconhecido traz à tona a sensação do medo, o mistério, o não familiar, que, é também associada a um certo fascínio, de que o desconhecido oferece a possibilidade de descobrir algo que não se conhece e que pode ser mais instigante que a própria existência3. A perda de uma pessoa amada é uma das experiências mais intensamente dolorosa que o ser humano pode sofrer. É penosa não só para quem experiencia, como também para quem a observa, ainda pelo fato de sermos tão impotentes para ajudar4. O elemento finitude revela o caráter de finito, ou seja, que tudo está acabado. Essa idéia, pode vir acompanhada de tristeza e revolta, considerando que interrompe a vida, podendo-se pensar na morte fora de hora. Pode também ser encarada com indiferença, fatalidade, após ter-se cumprido uma missão; poderá ser chamada de morte na hora certa5.
A morte traz consigo, sentimentos importantes como a indiferença – mecanismo de defesa; a tristeza – normal pelo laço de afeto construído no relacionamento cuidador-doente; impotência – que vem da fantasia de que conhecimento resolve tudo; medo de expressar sentimentos - resultado da construção do mito de que o cuidador deva ser impassível diante da situação de morte6.
Mas a morte traz a dor, que é definida pelo comitê de taxonomia da “International Association for the Study of Pain" – I.A.S.P. (Associação Internacional para o Estudo da Dor), como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a lesões teciduais reais ou potenciais. A maneira que cada ser humano sente, reage e memoriza a dor é única e pessoal porque está ligada diretamente à estrutura do seu mundo interno7.
A “Dor Total” inclui o sofrimento físico, psíquico, social, espiritual, mental, cultural e financeiro do paciente, abrangendo também o sofrimento dos familiares, da equipe médico–hospitalar e cuidadores8.
Prover cuidados pode causar estresse fisiológico e emocional. Pode causar sofrimento, deterioração e envelhecimento do organismo. Pode produzir sintomas, precipitar doenças que estavam em estado latente ou agravar doenças existentes, diretamente influenciadas pelo estado de ansiedade, depressão. Os diversos distúrbios do funcionamento mental estão também intimamente relacionados com o provimento de cuidados9.

MORTE

No imaginário popular a morte é representada como o juiz cruel que não faz distinção entre pessoas, classes, raças, sexos ou religiões. Ela é o ser perfeitamente justo que vem atingir a todos, sem levar em consideração nenhum de seus privilégios. A morte desempenha seu papel sem considerar mérito ou demérito, por meio de suas cartas, enviadas nominalmente, com destinatário certo. Uma única cobrança e todos são igualados10. O vivente quando morre é porque “[...] cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre”11. Desse modo, a morte é o ideal popular da justiça que trata a todos de forma igualitária, segundo o princípio de “dar a cada qual a mesma coisa”12.A pergunta “o que é a morte?” tem múltiplas respostas e nenhuma delas conclusiva, pois a questão transcende os aspectos naturais ou materialistas e, até biologicamente, é difícil uma resposta unânime13. “É a cessação total ou permanente de todas as funções ou ações vitais de um organismo”14. “A morte é o fim da vida. Mas fim entendido como meta alcançada, plenitude almejada, lugar do verdadeiro nascimento. A união interrompida pelo desenlace não faz mais que preludiar uma comunhão mais íntima e mais total”15.
Antigamente, a morte era tratada com mais naturalidade. O doente permanecia em casa, era cercado pela família e recebia atenção de todos. Dava as recomendações finais, manifestava seus últimos desejos, pedia perdão e se despedia. O falecido ficava exposto sobre uma mesa e, durante dois ou três dias, seus parentes e amigos, com vestimentas de luto, desfilavam diante dele para o último adeus15. Entretanto, na sociedade moderna industrial, há um afastamento da morte, o que é refletido na modificação das atitudes perante ela. Diante da morte, o imperativo é o silêncio. A grande cena da morte foi transformada em um ato frio, onde ninguém tem direito de se emocionar, senão às escondidas, para não perturbar os sobreviventes. Há uma tendência à neutralização dos ritos fúnebres e à ocultação de tudo o que diz respeito à morte. O velório acontece longe da casa do falecido e seu corpo é preparado de forma a perder suas características de defunto por meio da toalete funerária. O funeral é rápido, e, às vezes, alguém pronuncia algumas palavras em homenagem ao morto e tudo se encerra16.
A morte não se refere apenas ao envelhecimento contínuo, à transitoriedade, ao declínio inexorável de todas as forças vivas. Ela evoca também um outro mundo, aterrador, “aquele da confusão, do caos, do ininteligível, onde não existe mais nada nem ninguém”17.Apesar de a morte subsistir desde os primórdios da humanidade, em que a vida e a morte co-existem, o processo de morte e morrer tem sido motivo de aflição e agonia, já que mostra o quão suscetível e tênue é o estar vivo, ou seja, ser mortal18.
O enfrentamento da morte é difícil e angustiante para quem a vivencia, podendo ser mais ainda para quem a observa, porque a morte provoca rupturas profundas entre quem morreu e o outro que continua vivendo. Isso requer ajustamentos no modo de entender, de perceber e de viver no mundo19.

O CUIDADOR

O ato de cuidar inclui duas significações básicas, inteiramente ligadas entre si. A primeira é a atitude de desvelo, de solicitude e de atenção para com o outro. A segunda, de preocupação e de inquietação, porque a pessoa que tem cuidado se sente envolvida e afetivamente ligada à outra 20.
É sabido que o processo de cuidar de pessoas, inevitavelmente, proporciona sofrimentos, sentimentos de alegria, tristezas, impotência, perdas, dor, rejeições e angústias naqueles que são responsáveis de cuidar, principalmente, quando aqueles a serem cuidados, encontram-se em condição de fragilidade21.
Exercer o papel de cuidador é assumir uma grande responsabilidade consigo mesmo e com o outro. Não é fácil ser cuidador de um indivíduo, cuja morte é iminente, sendo difícil proporcionar uma assistência digna, Atendê-lo integralmente e aceitar que o limite desse cuidado possa ser traçado por ele. Diante disso, torna-se necessário um equilíbrio das reações e emoções diante do doente e seus familiares. Apesar de o sofrimento existir, o que se busca é assumir uma atitude ética e respeitosa ao lidar com os próprios sentimentos diante do sofrimento causado pela morte22.As pessoas nem sempre cuidam por vocação ou carinho do seu familiar. E isto poderá ocasionar desgosto na realização dos cuidados. Este tipo de família com certeza irá recorrer aos centros de apoio para pessoas com doença crônica ou preferem que o paciente passe a maior parte do tempo internado23.
Muitos dos cuidadores desabafam em relação aos seus sentimentos: a falta de tempo para cuidarem de si e dos demais membros da família, como os filhos, visto que a entrega maior se dá por parte das mulheres. É possível observar a vulnerabilidade dos cuidadores por diversos fatores, associados ao surgimento de manifestações psíquicas: visão negativa do cuidador sobre a doença ou sobre o impacto que esta doença tem na sua vida, ausência de uma rede de suporte, relação difícil com o paciente. Para o cuidador não se trata apenas de sobrecarga das tarefas, mais sim uma ameaça a sua saúde23.
A Organização Mundial da Saúde considera o atendimento às necessidades dos cuidadores um dos principais objetivos dos cuidados paliativos23.
Outro problema visível é a falta de compreensão dos demais familiares, no caso do cuidador familiar, pois a sobrecarga acaba sendo maior para o cuidador principal, apontado pelos demais membros da família24.
É comum que nas famílias um membro seja eleito como o “cuidador principal”, ou seja, uma pessoa que assume os cuidados permanentemente ou a maior parte do tempo sem ser remunerada para isto. O parentesco mais esperado entre os cuidadores principais é o da filha, independentemente do sexo do paciente, seguido de esposa25.
A escolha do cuidador não costuma ser ao acaso e a opção pelos cuidados nem sempre é do cuidador, mas, muitas vezes, expressão de um desejo do paciente, ou falta de outra opção; ao se sentir responsável, assume este cuidado, mesmo não se reconhecendo como um cuidador26.A possibilidade de cuidar remete o profissional à relação mais próxima possível com o paciente de quem cuida, de maneira que ele possa ser percebido em sua dimensão humana27. Sob esse prisma, a morte não é tão somente o aniquilamento de um estado biológico, mas é também a finitude de um ser em interação com um outro27. Esse entendimento do outro faz parte da mais importante atividade mental, porque possibilita o desenvolvimento do self e a sua aproximação com as situações da realidade cotidiana28.
Embora a temática morte, morrer, sofrimento e perda sempre desencadeie, por si só, os mais variados sentimentos, geralmente de desalento, a depender do sofrimento a que o ser humano está exposto, é possível que o cuidador, profissional ou não, não lhe deseje a morte, mas aceite a situação de morte como alívio para o que parece ser cruel e doloroso19.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo que engloba a morte e o morrer é confrontada pelos cuidadores, profissionais ou não, em seu trabalho efetivo de assistir as pessoas. Este trabalho de revisão evidenciou que sentimentos de luto como tristeza, angústia, ansiedade emergem no cotidiano e refletem uma imensa frustração e culpa em quem cuidou do outro diante da morte e do morrer. E ainda, que há a necessidade de se entender que a morte não é um desafio à vida, mas parte integrante da mesma. “como tudo o que é humano, a vida é também cansaço que anseia pelo sono”29.
Referências Bibliográficas

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4 BOWLBY, J. Perda: tristeza e depressão. São Paulo: Martins Fontes; 1985.
5 KOVÁCS, M. J. Pensando a morte e a formação de profissionais de saúde. In: Cassorla RMS, coordenador. Da morte: estudos brasileiros.
2ª ed. Campinas: Papirus; 1998. p. 79-103.
6CASSORLA, R. M. S. Reflexões sobre a psicanálise e a morte. In: KOVÁCS MJ, MORATO HTP, ROTHSCHILD D, FREITAS LV, CALAZANS RA, CASSORLA RMS, et al. Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2002. p. 19-112.
7MERSKEY, H.; ALBE – FESSARD, D.G.; BONICA, J.J.; CARMON, A.; DUBNER, R.; KERR, F.W.L.; LINDBLOM, V.; MUMFORD, J.M.; NATHAN, P.W.; NOORDENBOS, W.; PAGNI, C.A.; RENAER, M.J.; STERNBACH, R.A.; SUNDERLAND, S. – Pain terms: a list with definitions and notes on usage. Recommended by the IASP subcommittee on Taxonamy. In: Pain, 6: 249 - 52, 1979.
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11SUASSUNA, A. Auto da Compadecida. 10. ed. São Paulo: Agir Editora, 1973.
12 PERELMAN, C. Ética e Direito. Trad. de Maria Ermantina Galvão G. Pereira. Martins Fontes: São Paulo, 1996.
13CHIAVENATO, J. J. A morte: uma abordagem sócio cultural.. 2a ed. São Paulo: Moderna; 1998. 126p.
14VIEIRA, T. R. Bioética e direito. São Paulo: Jurídica Brasileira; 1999. 80p.
15BOFF, L. Vida para além da morte. 2a ed. Petrópolis: Vozes; 2002. 208p.
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17SCHOPENHAUER A. Die welt als wille und vorstellung I (O mundo como vontade e representação I). Livro I. In: Sämtliche werke. Frankfurt/M: Suhrkamp: Ed. Wolfgang Frhr. Von Loehneysen; 1986. Vol. I.
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21AMORIM, L. V. Importância de cuidar dos cuidadores. Disponível em: www.unama.br. Acesso em: 27/09/2008.
22ARAÚJO, P. V. R., VIEIRA, M. J. A questão da morte e do morrer. Rev Bras Enf 2004 maio/jun.; 57 (3): 361-3.
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26WANDERBROOCKE, A. C. M. S. Perfil do cuidador do paciente idoso com câncer. Revista Psico, Port Alegre, v. 33, n. 2, p. 401-412, jul./dez. 2002.
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28CHARON, J. M. Simbolic interactionism: an introduction, an (UK): Cliffs Prentice-hall; 1985.
29 ALVES, R. Tempo de morrer. In: Alves R. O retorno e terno: crônicas. 7a ed. Campinas: Papirus; 1996. p.113.

domingo, 23 de novembro de 2008

ENTENDENDO O ENVELHECIMENTO E SUAS COMPLICAÇÕES MENTAIS
Autor(a): Leuda S. Rodrigues
23 de Novembro de 2008

1. OBJETIVO DO ESTUDO
O estudo propõe que se apresentem alguns conceitos, os mais observados, abordagens teóricas biológicas e pscicossociais do envelhecimento, responsáveis pela maioria das inspirações de ações assistenciais trabalhadas na área de saúde do idoso. Ainda assim buscar as principais complicações seja de ordem física ou mental, que mais evoluem nesta fase da vida.

2. INTRODUÇÃO
O século XX se caracterizou por imensas transformações. Possivelmente a maior delas é o envelhecimento populacional. A esperança de vida cresceu, mundialmente, cerca de 30 anos neste último século. As conseqüências desta maior longevidade são dramáticas e pouco apreciadas. Toda a sociedade está sendo afetada - e continuará a sê-lo na medida em que esperamos para as próximas décadas um processo de envelhecimento ainda mais rápido refletindo a diminuição acelerada das taxas de natalidade, nos últimos anos, na maioria dos países. A equação demográfica é simples: quanto menor o número de jovens e maior o número de adultos atingindo a terceira idade, mais rápido o envelhecimento populacional (VERAS, 2003).
A expectativa que temos frente a gerontologia é de que devemos buscar artifícios que induzam o individuo, quando na velhice, evoluir de forma aceitável frente todos os desafios que a ele são propostos nesta fase. O envelhecimento faz parte de um ciclo vital da vida de todo o ser humano, portanto, não tem como fugir, por isso se faz pertinente entendermos alguns conceitos teóricos e práticos que se assemelham com o transcorrer deste processo, para que desta forma ocorra uma aceitação bem vida e não por mera obrigação. As concepções devem ser baseadas em uma continuidade da vida, visando-se assim uma melhor qualidade do bem-estar e do bem-viver.
Segundo Freitas, et. al.(2006) durante séculos, o estudo da longevidade e do envelhecimento em seres vivos foi relegado a um papel meramente acessório nas diferentes disciplinas da Biologia. Estudos da genética, bioquímica, fisiológica e ecologia abordavam superficialmente temas ligados ao envelhecimento, sem, contudo, se ocuparem da elaboração de convenções instrumentais ou de terminologias que pudessem ser usadas para facilitar a exploração dos mesmos.
Veras (2003) diz que O Brasil, país de nível intermediário de renda per capita, marcado por profundas desigualdades sociais, apresenta situações absolutamente contrastantes, com estratos sociais privilegiados exibindo padrões demográficos e comportamentais em tudo semelhantes aos existentes nos países desenvolvidos e populações carentes de recursos básicos, como habitação, saneamento e alimentação adequada. Do ponto de vista demográfico, não resta dúvida de que existe uma superposição em nosso país de uma população jovem de dimensão muito relevante, com uma população envelhecida igualmente expressiva, na verdade, o Brasil atual trata-se de um "país jovem de cabelos brancos".

2.1 Alguns Conceitos sobre o envelhecimento
Processo inelutável caracterizado por um conjunto complexo de fatores fisiológicos, psicológicos e sociais específicos de cada indivíduo. Assim, certos idosos estão mais envelhecidos, outros parecem mais jovens e há ainda os que se sentem não ter qualquer utilidade, afirmando a complexa heterogeneidade da velhice (Berger, 1996).
Para Papaleo (1996), o envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, com modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam perda da capacidade de adaptações do individuo ao meio ambiente ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que terminam por levá-lo a morte.
Um conceito bastante utilizado pro pesquisadores brasileiros para envelhecimento é que este ocorre devido mudançsa morfofuncionais ao longo da vida, que ocorrem após a maturação sexual e que, progressivamente, comprometem a capacidade de resposta dos indivíduos ao estresse ambiental e à manutenção da homeostasia (Mercadante, 1996).
Sob a óptica do Estatuto do idoso , Lei numero 10.741, de primeiro de outubro de 2003, o envelhecimento deverá ser visto por intermédio de um critério cronológico, em que diz que o limite de idade entre o indivíduo adulto e o idoso é de 60 anos, porém, em alguns aspectos, principalmente relacionados, como as gratuidades em cinemas, transportes entre outros, é de 65 anos.
O envelhecimento não deve ser considerado como sendo só a soma de patologias agregadas e de danos induzidos por doenças. Inversamente, nem todas as mudanças em estrutura e função dependentes da idade podem ser consideradas alterações fundamentalmente ligadas à idade por si só.
2.2 Teorias sobre o envelhecimento

Teoria imunológica esta considerada como sendo a transformação imunológica resultantes do envelhecimento resultariam na formação de anticorpos que atacariam as células sãs do organismo. Portanto, o sistema imunológico não conseguiria distinguir as células sãs existentes no organismo das substâncias estranhas.
Teoria do uso e desgaste aqui se trabalha com a visão de que o organismo humano comporta-se como uma máquina, cujas partes deterioram-se com o uso. Esse desgaste provocaria anomalias que param seus mecanismos.
Teoria dos radicais livres aqui se postulam a falência progressiva das células com funções integradoras entre o organismo e o sistema nervoso, levando ao colapso da homeostasia corporal, à senecência e à morte. Para os pesquisadores, a longevidade seria regulada por um relógio biológico que agiria sobre as glândulas endócrinas, sobretudo na hipófise, a fim de prover falhas nos sistemas imunológicos e circulatórios. Os relógios hipofisários ou celulares desencadeiam processos humanos como crescimento, puberdade, menopausa e envelhecimento.
Teoria psicológica desta vez trabalha-se com uma gama de especialidades desde a própria psicologia, antropologia, sociologia até outros profissionais que visam instituir de forma globalizada respostas ao fenômeno do envelhecimento. Esta dividem-se em três abordagens, conforme o paradigmas que propõem: a mudança ordenada, a contextualidade e a dialética, Camacho (2001). Uma das maiores contribuições dessa teoria é a multideterminação do desenvolvimento, que permite a formação de perfis vitais diferenciados e faz com que as pessoas sejam diferentes entre si; portanto o desenvolvimento não se traduz em mudanças unidirecionais e acumulativas, mas em mudanças multilineares e descontínuas.
Teoria sociologias estas classificadas de acordo com as gerações, para que seja possível conhecer suas origens intelectuais e a contribuição das teorias anteriores para a formulação de novas explicações. Souza (1999) diz que esta evolução em gerações contribui para o reconhecimento de que os idosos não são atores passivos do processo, e sim criam significados para o próprio envelhecimento, e a estrutura social também é reciprocamente afetada por esses significados.

2.3 Complicações frente o Envelhecimento
Definir a categoria velhice não é tarefa muito fácil, porque envolve muitas variáveis: biológicas, cronológicas, psicológicas, existencial, cultural, social, econômica, familiar e política. No entanto, o envelhecimento é definido como um fenômeno biológico e psicológico que influencia o meio familiar e social e caracteriza-se pela perda gradual das funções orgânicas (Oliveiras, 2004).
A condição em que o idoso retém sua capacidade intelectual e física em níveis aceitáveis é chamada de senescência, e quando aparecem sinais de degeneração muito intensos, ocorre o envelhecimento patológico, chamado senilidade.
Segundo (2006) a Saúde Mental do idoso pode ser entendida como o equilíbrio psíquico que resulta da interação da pessoa com a realidade. Esta realidade é o meio circundante que permite à pessoa desenvolver suas potencialidades humanas; normalmente, essas potencialidades estão estreitamente associadas à satisfação de suas necessidades. Faz-se importante considerarmos três aspectos concretos: estado mental, percepção do envelhecimento e autonomia funcional.
Problemas mentais mais comuns nesta fase da vida:
1. Depressão caracterizada por tristeza, baixa da auto-estima, perssimismo, desesperança, retraimento e idéias de suicídio. O comportamento depressivo é considerado uma resposta inadaptada a alguma perda. Ela se divide em Depressão reativa, Depressão secundária e Depressão endógena.
2. Ansiedade aqui temos o transtorno da ansiedade generalizada, contribuindo para o estado de sono e prejuízo cognitivo. Este tem sido foco de investigação no mundo, uma vez que reduzem a qualidade de vida da pessoa idosa. A ansiedade pode ser considerada um transtorno multidimensional.
3. Psicose esta e menos comum, mas ocasionalmente o idoso desenvolve características psicóticas, como delírios, alucinações ou distúrbios de dissociação da realidade.
4. Demência implica sempre em um comprometimento significativo e irreversível na qualidade de vida da pessoa. Portanto, se a dem6encia foi diagnosticada, o prognóstico é sempre reservado. Porém, não é raro encontrar quadros similares à demência em idosos hospitalizados que, se apropriadamente tratados, restabelecem a saúde cognitiva.
5. Perda memória após os 60 anos, as dificuldades de memória e/ou cognitivas podem ser tão proeminente que chegam a levantar suspeitas de um quadro demencial, o qual passou a ser chamado de pseudodemência . Vários fatores contribuem para a perda da memória no idoso: estresse, depressão, crise, sentimentos de inutilidade, perdas de interesse pelos afazeres da vida diária, perdas da células neurais, isolamento social (Torres, 2001).
6. Confusão mental é o conjunto de características que defini desatenção, verbalizações impróprias, déficits de memória, comportamento inadequado e fracasso na execução das atividades da vida diárias. Segundo Figueiredo (2006) muitas vez o idoso é isolado do meio social e do contato com outras pessoas, tem pouco acesso à leitura e aos meios de comunicação, o que pode contribuir para a falta de orientação autopsíquica (com relação aos dados sobre ele: quantos anos tem, onde mora, dia do aniversário etc.) e alopsíquica ( que dia é hoje, onde está, em que ano, mês etc). A confusão mental pode ser causada por fatores sociais, fisiológicos e patológicos.
7. Isolamento social por medo de sofrer perdas faz com que o idoso inicie um processo de isolamento; ele opta por ficar sozinho, com medo de se envolver emocionalmente e acabara por vivenciar mais uma situação de perda.
8. Risco de violência contra si próprio comum nesta fase da vida, neste momento o suicido é comum, pessoas de terceira idade constituem um grupo considerado de grande fragilidade social e, por isso, de alto risco para o suicídio. Na maioria das vezes, as pessoas tentam o suicídio por que se sentem só e abandonadas pelos familiares e amigos.
9. Autonomia funcional (mobilidade, AVD) são dois importantes fatores para se adquirir autonomia, porém nesta fase da vida tendem a estarem comprometidas, e é justamente aí que inicia o processo social debilitado, pois as funções estão restringidas, até mesmo palas poucas condições oferecidas e também executadas pelo idoso. As perdas motoras devem ser adaptadas frente às atividades diárias proposta a eles, desta forma trabalha-se a autonomia individualizada, limitando-se a resposta observada por cada um.

3. Tratando as complicações com o Apego Religioso observado nos idosos
Para os idosos, o sentido da vida está no sagrado, por isso dele se aproximam e se abrem para recebê-lo. Diante do sagrado se sentem fortes, amados, protegidos e filhos de Deus e nas relações com a comunidade são mansos, pacíficos e festivos. Tais sentidos propiciam a organização interna necessária para que se posicionarem no mundo. Sua religiosidade é vivida paradoxalmente, pois é na relação com o sagrado que sentem fortes na fraqueza, alegres apesar da dor, sábios na ignorância e ricos na pobreza.
Buscam fundamentar e organizar a vida com os sentimentos e afetos gerados, no convívio com o sagrado. Há na religiosidade desses idosos uma atitude de abertura ao mistério, ao invisível e transcendente que é importante para ser considerada na visada do psicoterapeuta, na sua lida com essa população. Existe uma importância frente o discurso religioso dos idosos, uma vez que ele revela os diversos estilos culturais e pessoais da psique, oferecendo pistas para decifrar os enigmas humanos e para compreender a sua dimensão mais profunda, ou seja, o seu núcleo mais íntimo e existencial.
“Quando a religiosidade se torna um Problema”
A religiosidade é muito tida como fator pelo qual o idoso tenta se apegar a algo que apesar não ver, mas tem o sentimento de alto sentido, provado pela sensação de sentir a presença constante de um Deus que os ampara independente das crenças. O problema se dá quando esta religiosidade interfere na boa atuação mental deste idoso, pois alguns se fragilizam a tal ponto, que absorvem de maneira errônea o significado da religiosidade em suas vidas. Eles fazem da religião um fanatismo que os propiciam uma ligação confusa entre o seu meio interno e o meio externo. Alguns tendem a se fragilizar ainda mais com o passar do tempo conseqüentemente traduzem em suas faces e atitudes reações penosas e questionáveis.
4. Considerações finais
Finalmente estar nesta fase da vida é uma realidade social imutável e que pode ter algumas representações, às vezes difíceis de resolver por causa da família, de preconceitos sobre os idosos e de marginalização. Ainda se observa muitas contradições sobre o que se sabe sobre o envelhecimento e suas complicações.
Aqueles que cuidam de idosos ou t6em em casa devem esforçar-se para despertar sua consci6encia interior para essa realidade. Uma consciência que aceite o real e não fique só a imaginar, criando conceitos teóricos sobre o que é ser idoso sem senti-lo na própria pele.
Deve-se considerar o conhecimento e a experiência do próprio idoso sobre o envelhecimento. Não se pode acreditar num entendimento fabricado por ideologias dominantes, nem por fantasias acerca da realidade, do ideológico. Não se pode inventar, é necessário saber o sentido de envelhecer para cada pessoa, de modo que os profissionais de saúde e os familiares ajudem e cuidem do idoso sob um contexto real e não ilusitório, disfarçado por paradigmas inexistênciais.
O idosos depositam na religião suas esperanças. A afetividade se manifesta de maneira muito intensa em relação à religiosidade. Isso pôde ser observado tanto no aspecto dos sentimentos, quando o idoso fala de sua fé, de como agradece a Deus pela sua vida e como Deus é bom, quanto no aspecto das emoções, quando sorriem, quando se acomodam melhor na cama para tratar sobre o assunto, quando gesticulam de maneira mais expansiva.
Uma abordagem positiva da religiosidade pelos profissionais e pelas pessoas que se relacionam com o idoso poderá auxiliar na recuperação de sua saúde, oferecer melhores condições de saúde e de bem estar tanto ao idoso quanto aos que estão envelhecendo. O processo de cura deverá ocorrer de forma humanizada, desta forma refleti-se o consentimentos de reações positivamente aceitas. Finalizando Sayeg (2003) afirma que “o modo como o indivíduo vive e as relações que estabelece, determina, junto com outros fatores, a forma como se desenvolve o processo de envelhecimento”.
Referências Bibliográficas
CAMACHO, A.C.F. O cuidado de enfermagem ao cliente idoso hospitalizado: um estudo exploratório das representações dos profissionais de enfermagem. 232 p. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, 2001.
FIGUEIREDO, N.M.A. GERONTOLOGIA atuação da Enfermagem no Processo de Envelhecimento. Yendes Editora, Rio de Janeiro, 2006.
SANTOS, S.M.A. A construção do cuidado familiar de pessoas com dem6encia: um estudo em famílias japonesas e brasileiras. Tese (Doutorado). Faculdade de Educação Unicamp, Campinas, 2003.
SAYEG, M.A. Envelhecimento bem-sucedido e o auto-cuidado: algumas reflexões Rio de Janeiro: Científica Nacional, 2003.
SOUZA, G.G. O olhar do idoso para si e para a consulta de enfermagem: perspectivas de abordagem a partir de suas representações. 86fl. Dissertação (Mestrado em Enfermagem). Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade federal do estado do rio de janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, 1999.
MERCADANTE, E. Aspectos antropológicos do envelhecimento. In PAPALÉO NETTO, M. GERONTOLOGIA. São Paulo: Atheneu, p.73-76, 1996.
VERAS, M.R. Fatos da Terceira Idade. Medis; 98p. Rio de Janeiro; 2003.

A viuvez na velhice e suas ressignificações

Por: Andrea Moraes Ribeiro
Prof: Vicente Alves


Introdução


Envelhecer é fato inevitável no curso da vida, pois inicia já com o nascimento e estende-se ao longo dos anos. Independentemente de raça, cor ou gênero, trata-se de um processo inerente a todos os seres vivos, seguindo-se ao longo do tempo e findando com a morte. Já que a morte é uma certeza de que se tem na vida.
A velhice traz consigo inúmeras alterações fisiológicas e comportamentais, mas o acontecimento da perda do parceiro nessa fase de vida pode significar um processo complexo que altere toda a estrutura psicossocial e até fisiológica dos idosos. É consenso entre os tanatólogos que o enfrentamento do luto é influenciado por vários fatores externos e internos ao sujeito, dentre eles, a cultura local e a experiência de vida da pessoa enlutada. Sendo este processo, então, vivenciado e resignificado das mais variadas formas.


Dialogando com alguns autores


De acordo com Doll (2002) a perda do parceiro sempre foi considerada um evento drástico que afetava a psique, a saúde e as relações sociais das pessoas. No entanto este processo não ocorre de forma estática e homogênea entre os indivíduos. A cultura vigente e o contexto social estão fortemente relacionados ás maneiras de enfrentamento do luto, bem como os sentimentos e comportamentos individuais também podem influenciar as formas sociais de luto. De modo que, cada indivíduo pode experimentar de forma singular a perda de um ente querido e entre os idosos este processo não é diferente.

D`Assumpção (2008) aponta que há uma idéia atual de que os idosos aceitem melhor a morte que os jovens. Isto ocorreria pelo fato de terem tido uma vida longa e realizada, por terem maior proximidade com eventos que causam a morte, como as doenças incapacitantes e degenerativas. O idoso passa por um maior número de lutos e numa velocidade maior que os demais grupos etários. Por vezes, a pessoa idosa tem que lidar com a morte do companheiro, amigos, filhos e netos. Podendo não haver tempo de elaboração dessas perdas. De modo que o idoso teria uma maior capacidade de adaptação ao luto, já que convive mais freqüentemente com ele. No entanto, para este autor, na maioria das vezes a dor da perda de um ente querido é mais insuportável que a possibilidade da própria morte.

Corroborando, Doll (2002) afirma que as pessoas mais velhas têm, em geral, mecanismos de controle emocional mais desenvolvido, e, justamente por já ter passado por um número maior de perdas ao longo da vida, podem ter desenvolvido formas mais eficazes de lidar com o luto. Contudo, os idosos são mais vulneráveis tanto física quanto socialmente, e a perda do companheiro de toda uma vida pode significar um desarranjo estrutural sem precedentes.

Para Doll (2002) a viuvez sempre teve uma conotação feminina, sendo principalmente relacionada às mulheres, pois as viúvas sofrem mais as conseqüências, como perda do papel social, diminuição ou perda total da renda e isolamento social. Este último, mais evidente quando a identidade da mulher é fortemente ligada ao marido. Na Idade Média, inclusive, surgiram diferentes tipos simbólicos de viúvas, a viúva alegre, a viúva pobre e a boa viúva. Algumas destas representações presentes até os dias de hoje.

Já entre os homens idosos a perda da companheira pode ser agravada por eventos que geralmente ocorrem nesta fase da vida como, aposentadoria e outras perdas de papéis sociais, o que de acordo com Doll (2002) aumenta os riscos de problemas psicológicos, como a depressão. Pesquisa atual revela que, enquanto as mulheres sentem mais falta do que os maridos representavam para elas, os homens sentem mais falta do que as mulheres faziam para eles, como cuidar da casa e da família, e do valor emocional que este cuidado representava.

A perda de um ente querido pode acarretar manifestações mais variadas possíveis entre os indivíduos, que vão desde a aceitação total da perda, a chamada ausência do luto, até a própria morte da pessoa enlutada. Freud (1917) em seu ensaio sobre a melancolia defende a existência do luto normal e do luto patológico. Para ele, o enfrentamento saudável ou normal do luto passa pela dissolução do vínculo da pessoa enlutada com o ente falecido. Quando isso não ocorre, desenvolve-se o luto patológico. No entanto, atualmente, há uma corrente de pesquisadores que aceitam e incentivam a manutenção dos laços afetivos com o falecido, já que as lembranças dos momentos vividos juntos podem transmitir segurança e força para o que vive.

As reações típicas ao luto são depressão, desespero, angústia, sensação de culpa, raiva dos outros, de si mesmo ou do morto e solidão. Para Doll (2002) a agressividade e a raiva são comuns na primeira fase após a perda do parceiro, no entanto, tendem a diminuir dando espaço para sentimentos de tristeza, de solidão e insegurança quanto à nova vida sem o parceiro. Viver o luto não significa necessariamente doença, mas pode acarretar sérios problemas de saúde, como problemas psicossomáticos, se não trabalhado de forma adequada. Lembrando que o impacto e as conseqüências da perda do companheiro dependerão das condições físicas, psíquicas e sociais anteriores e atuais do enlutado, ou seja, da vulnerabilidade do sujeito. A preexistência de doenças crônicas, condições psiquiátricas e uma estrutura familiar desorganizada podem agravar consideravelmente a experiência do luto. Por outro lado, uma rede de apoio na família, amigos e vizinhos são capazes de aliviar a tensão da perda, já que a pessoa enlutada sente-se confortada em seu sofrimento e em sua singularidade.


A vida após o luto: reaprendendo a viver


Atualmente, o luto é percebido como uma fase comum no percurso da vida, e como tal, a readaptação pode ser possível. Nesta perspectiva, conceitos como resiliência e enfrentamento são usados para compreender os esforços empenhados pelo sujeito para lidar com as demandas do luto. O termo enfrentamento foi introduzido pela psicanálise freudiana, portanto envolve uma conotação de fundo psicopatológico, sendo o luto uma experiência que pode ser tratada e curada por profissionais psicoterapeutas, quando a experiência da perda prolonga-se mais do que o necessário. Mas quem está realmente capacitado para decidir sobre o tempo exato de sofrimento da perda de um ente querido? No caso do idoso, qual o tempo necessário para cortar os vínculos com o companheiro de toda uma vida? E é realmente possível cortar estes vínculos?

Várias críticas são feitas atualmente a este modelo de enfrentamento do luto proposto por Freud (1917) e seguidores. Dentre elas, a necessidade de solução dos vínculos com o falecido. Para Doll (2002), Baldin e Fortes (2008) o companheiro morto pode sim ocupar um novo lugar na vida do sujeito. Todas as lembranças inesquecíveis podem sim ajudar a refazer a vida, apesar da saudade. Neste sentido, o tempo é um forte aliado:

"A passagem transcorrida após a morte do companheiro mostra que o tempo é um “cicatrizante” e que o conformismo não significa mera acomodação, mas um recurso que possibilita às idosas viverem com menos sofrimento, conseguirem superar as dificuldades que poderão surgir na velhice e viverem esta fase com mais qualidade de vida. (Baldin e Fortes, p.48, 2008)"

Neste sentido, readaptar-se significaria a elaboração da perda, vivenciando o luto como um período de transformações. A capacidade do auto-cuidado, o apoio da família e amigos, bem como a construção de um novo projeto de vida, podem ser estratégias positivas na passagem do luto.


Considerações Finais


A Viuvez é um evento dramático na vida das pessoas, e dentre os idosos não é diferente. Talvez pela vulnerabilidade psicossocial e física a que o idoso está exposto este processo seja ainda mais difícil. O que vai definir as conseqüências do luto na vida dessas pessoas é a forma como a perda será elaborada e vivenciada pelo sujeito.

Importante ressaltar que a experiência do luto não é homogênea nem universal. Cada pessoa fará uso dos recursos disponíveis para enfrentamento das demandas, que parecem tão maiores que suas condições de luta. Cada sujeito poderá significar a perda segundo sua singularidade e ressignificá-la de acordo com suas possibilidades. Podendo inclusive sair deste processo mais forte e feliz. Nesta perspectiva, o apoio da família e amigos torna-se imprescindível, já que a percepção de que se é parte integrante de uma família e com uma missão ainda a cumprir pode abrir novos caminhos a serem trilhados na nova fase da vida.



Referências Bibliográficas

Baldin, C. J.; Fortes, V.L.F. Viuvez feminina: a fala de um grupo de idosas. In: RBCEH, Passo Fundo, v. 5, n. 1, p. 43-54, jan./jun. 2008. Disponível em: http://www.upf.br/seer/
Acessado em 21.11.2008.

D’ ASSUMPCÃO, E. O idoso diante da vida e da morte. Academia Mineira de Medicina. (on line). Disponível em www.acadmedmg.org.br . Acessado em 4 de maio de 2008.

Dell´Aqua, G.; Mezzina, R. Resposta à Crise. In. Delgado, J. A loucura na sala de jantar. São Paulo: CCJ, 1991. p.53-79.

DOLL, J. Luto e viuvez na velhice. In: Freitas, E. V. et al. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 2002. p. 999-1012.

Freud, S. Luto e Melancolia (1917). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. XIV, p.275-291.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

preconceito

Após apresentação das alunas da disciplina Enfermagem Gerontológica e Geriátrica discutimos o artigo de Guita Gin com a abordagem sobre as armadilhas que apresentamos ( ou nos apresentam) relacionadas ao envelhecimento. Neste contexto, vimos que a sociedade nos impõe um consumismo sobre o qual deve-se refletir, para que o nosso processo de envelhecimento seja aceito com tranquilidade, sem considerá-lo como doença ou condição de dependência. Portanto, alguns recursos para esconder a idade tem sido utilizados pelas pessoas de forma que o preconceito fica embutido em várias atitudes tomadas (tipos de roupas utilizadas, por exemplo). A discussão sobre o tema é relevante para a construção do envelhecimeto desta sociedade e o nosso próprio.
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terça-feira, 18 de novembro de 2008

Redes sociais e religião no enfrentamento das dificuldades

Introdução

Nos anos 80 e 90, houve uma paulatina abertura, para a aceitação da contribuição da ações sociais conduzidas por grupos religiosos.
Percebe-se que nesse período, a religião, não se limitava mais a um único domínio – o das convicções íntimas e privadas – nem se expressava no campo da militância social e política de forma estritamente remissível às expressões institucionalizadas tradicionais (igrejas). A preocupação passa a ser, neste contexto, distanciar um pouco o foco, para captar outras modalidades de ação em prol da cidadania e, nelas, como um caso particular, o lugar da religião. Trata-se, então, de inquirir sobre o lugar da vivência ou adesão a valores religiosos nos espaços de participação cidadã, interagindo com outras fontes de motivação e orientação para a ação coletiva. (Burity, 2000)
No caso das mudanças na relação entre religião e sociedade/política, deve-se acentuar o impacto positivo que a luta pela redemocratização e o processo de transição à democracia dos anos 80 trouxe para a pluralização da agência social e política, bem como para a introdução de elementos politizadores em diversos segmentos sociais marcados pelo seu isolamento ou conservadorismo. Foi nas décadas de 70 e 80 que a redefinição das relações entre religião e sociedade/política ganhou grande visibilidade social: a igreja popular, as comunidades de base e os movimentos de bairro, a teologia da libertação, o movimento ecumênico (em alguns estados do país), o movimento de direitos humanos (cf. Doimo, 1995; Burity, 1989; 1994; Barreira, 1992; Krischke, 1979; Krischke e Mainwaring, 1986).
Estas ações são relevantes porque induzem um crescente número de experiências locais de inserção de grupos religiosos nas ações sociais de enfrentamento da pobreza, da exclusão, bem como das diversas dificuldades enfrentadas ao longo da vida (Burity, 2000).

A Religião como meio de resistência A busca da religião, enquanto meio de superação do sofrimento e de aquisição de forças para manter a vida, denota o desejo de tentar superar as desigualdades e injustiças e a busca de integralidade humana (Ogata & Furegatto, 2000:11); sendo assim, uma forma de resistência frente à realidade vivida, seja ela pessoal ou social.
É no espaço religioso que se estabelece a identidade religiosa, cultural e social, nesses espaços rituais comunitários que se restabelecem os laços de identidade e de solidariedade da comunidade (Parker, 1996). As pessoas que ali se sentem pertencentes trazem em si uma gama de relações e vínculos que vão além da amizade, do companheirismo, da solidariedade e do apoio mútuo. Elas acabam por se identificarem umas com as outras na busca de se ajudarem mutuamente. É a rede social, interferindo na superação das dificuldades, independente da natureza das mesmas.

Enfrentamento influenciado pela cultura Os eventos são interpretados pelas pessoas, de acordo com os significados que têm para si. Dessa forma, o que torna uma experiência estressante não é o evento em si, mas as avaliações que as pessoas fazem da situação. As pessoas possuem um sistema de orientação que representa uma forma geral de compreender e lidar com as situações e que, em momentos de crise, o processo de enfrentamento é fortemente influenciado por esse sistema. Deve-se levar em consideração que o enfrentamento é influenciado pela cultura já que ela pode modelar o sistema de orientação das pessoas no mundo e as estratégias de enfrentamento, que podem ser ensinadas e privilegiadas em um contexto socio-cultural em detrimento de outras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Barreira, I A F. 1992. O Reverso das Vitrines: conflitos urbanos e cultura política em construção. Rio de Janeiro, Rio Fundo
2. Burity, J A. Redes sociais e o lugar da religião no enfrentamento de situações de pobreza: um acercamento preliminar. Disponível em: http://www.clacso.org/
3. Burity, J A. 1989. Os Protestantes e a Revolução Brasileira, 1961-1964: A Conferência do Nordeste. Dissertação de mestrado em Ciência Política. Recife, Universidade Federal de Pernambuco, mimeo.
4. Doimo, A M. 1995. A Vez e a Voz do Popular: Movimentos sociais e participação política no Brasil pós-70. Rio de Janeiro/São Paulo, Relume-Dumará/ANPOCS
5. Krischke, P J. 1979. A Igreja e as Crises Políticas no Brasil. Petrópolis, Vozes.
6. ______ e Mainwaring, S (orgs.). 1986. A Igreja nas Bases em Tempo de Transição (1974-1985). Porto Alegre, L&PM. 7. Faria, J B; Seidl, E M F. Religiosidade e enfrentamento em contextos de saúde e doença: Revisão da literatura. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2005, 18(3), pp. 381-389.
8. Ogata, M N e Furegatto, A R F, 2000. Concepções de saúde e de doença de profissionais da saúde. VI Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. Anais, CD-ROM. Salvador: ABRASCO.
98. Parker, C, 1996. Religião Popular e Modernização Capitalista: Uma lógica na América Latina. Petrópolis: Editora Vozes.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Importância da Religiosidade no Envelhecimento

A sociedade tem evitado o debate sobre a espiritualidade relacionada com a saúde ou a qualidade de vida, buscando formas mecanicistas e causal de interpretar e até simplificar as vivências humanas. A intenção é refletir sobre as possíveis implicações da espiritualidade no envelhecimento saudável. (Cupertino, 2004)

A espiritualidade pode ser um dos fatores facilitadores da adaptação diante das perdas, mudanças e alterações que estão presentes na medida em que os indivíduos envelhecem. Ela pode ter um papel protetor, fortalecendo o indivíduo para resistir e superar as perdas.

Há evidências de que a espiritualidade, assim como as práticas religiosas, contribui para o bem-estar na velhice e cada vez mais este tópico é incluído nos estudos sobre o envelhecimento. Trata-se de uma área controversa e de difícil investigação devendo ser salientado, no entanto a importância da multidimensionalidade e a diversidade dos conceitos de espiritualidade e de religiosidade. (Sommerhalder C & Goldstein LL, 2006)

O envelhecimento comporta desafios biológicos, fisiológicos e psicológicos que produzem crises existenciais é, no entanto, um fenômeno normal na vida. Como em todos os momentos do desenvolvimento vital, ao chegar a ultima etapa da vida, o idoso sente ainda surgir em si perguntas relativas à origem, destino e sentido de sua existência. Assim como realizar reflexões quanto à forma que viveu e viverá os próximos anos.

O que ocorre é que o ser humano é capaz de viver e até morrer por seus ideais e valores (Frankl, 2003, p.92). Dizia ainda que “não há nada de mais apropriado para que um homem vença ou suporte dificuldades objetivas ou transtornos subjetivos, do que a consciência de ter na vida uma missão a cumprir”. Esta missão tem um caráter específico duplo: “a missão não muda apenas de homem para homem, muda também de hora em hora, em decorrência do caráter irrepetível de cada situação. Esses aspectos da existência humana são constitutivos do seu caráter de sentido. Quanto mais ele apreende o caráter de missão, tanto mais verá sua vida cheia de sentido.

Como toda crise existencial, também essa da última etapa não pode ser superada de modo válido senão por meio da renovação da interioridade. A espiritualidade evidencia a existência de “potenciais forças escondidas no homem que o envelhecer faz desabrochar” (Baldessin, 2002).

Muitas pessoas, especialmente as idosas, experimentam uma forte interação entre sua fé religiosa e um senso de espiritualidade, incluindo tanto a “dimensão horizontal” da espiritualidade (que se dá nas experiências comuns do dia-a-dia), quanto à “dimensão vertical” (a que busca alcançar Deus).

A espiritualidade envolve a capacidade de se maravilhar, de reverência e gratidão pela vida. É a habilidade de ver o sagrado nos fatos comuns, de sentir a pujança da vida (Elkins, 2003). Remete a uma questão universal relacionada ao significado e o propósito da vida. (Sommerhalder & Goldstein, 2006)

Percebe-se que não existe um consenso na literatura quanto à definição de espiritualidade. Ela pode ser definida em três dimensões distintas: 1) espiritualidade como participação em uma instituição religiosa – comportamento objetivo; expressão formal da espiritualidade; 2) espiritualidade individual e/ou subjetiva – movimento ou disposição internos. Refere-se a uma “experiência interna e pessoal emitida em resposta a eventos da vida”; 3) espiritualidade expressada como crença integrativa a dar sentido e significado à existência humana. Como força integrativa entende-se a busca de significado que transcende o indivíduo. (Cupertino, 2004)

Portanto, a religiosidade como um fenômeno multifacetado, busca entender quais aspectos da religiosidade se relacionam com as várias funções psicológicas e o comportamento. De modo geral, há quatro dimensões: crenças, rituais (práticas ou atividades religiosas), experiência e conhecimento religioso.

Lukoff (1992, apud Farias e Seidl, 2006) distingue religiosidade de espiritualidade, sendo que a primeira pode ser definida como adesão a crenças e a práticas relativas a uma igreja ou instituição religiosa organizada; enquanto espiritualidade é a relação estabelecida por uma pessoa com uma força superior na qual ela acredita.

Enquanto a espiritualidade é uma reflexão sobre, a religiosidade remete a uma relação com. Essa relação pode ser com Deus ou com uma entidade. A palavra religião significa religar, restabelecer a ligação entre Deus e os homens. Portanto refere-se a comportamentos e crenças associados à religião. As religiões buscam responder à questão do significado da vida e possuem um código de ética que rege o comportamento e dita os valores morais. (Sommerhalder & Goldstein, 2006)

Molzahn (2007) considera que a espiritualidade é mais inclusiva e universal do que a religiosidade. É considerado relevante independente de a pessoa ter uma religião. É um estado de paz e harmonia e está relacionado ao significado da vida, doença e morte. Tem dimensão religiosa e existencial.

Para Cupertino (2004), percebe-se que o que marca as religiões e a espiritualidade é o fato de se relacionarem com o esforço de pensar a realidade de modo que faça sentido. A espiritualidade é importante para a população idosa e pode desempenhar um papel positivo na manutenção e na recuperação da saúde.

Existe hoje uma tendência dos órgãos oficiais em considerar a espiritualidade ao se falar de saúde. A Organização Mundial de Saúde (1998) reconheceu a importância da dimensão da espiritualidade como sendo essencial na definição de saúde, através da correlação positiva, demonstrada em publicações recentes, entre espiritualidade e qualidade de vida, quer seja em sua dimensão de saúde física, social ou mental.

Chally (2004) afirma que, de acordo com o National Institutes of Health (NIH), qualidade de vida inclui as dimensões de saúde, cultural, psicológica, interpessoal, espiritual, financeira, temporal e filosófica. Trata-se de um conceito subjetivo e contextual. É baseada apenas na experiência do indivíduo. Há uma falha no consenso da definição, cobrindo um leque de conceitos como status de saúde, status funcional, alegria, estilo de vida e depressão.

Estudos científicos demonstraram esta relação positiva. O levantamento de Koening, McCullough and Larson (2001 apud Molzahn, 2007) encontrou 724 estudos sobre espiritualidade neste século. Dois terços demonstraram associação positiva entre atividade religiosa e melhora da saúde mental, aumento do suporte social e menor abuso de drogas.

O estudo de Larson, Swyers & McCullough (1998) mostrou que espiritualidade é um fator positivo em como lidar com a doença, como prevení-la e ainda, ajudando no tratamento. (Molzahn, 2007)

Estudos transversais demonstraram que, embora as dificuldades de saúde e de locomoção levem à diminuição da participação em atividades religiosas institucionalizadas, a freqüência em atividades não-institucionalizadas (oração, leituras religiosas e programas religiosos) permanece inalterada e pode até aumentar (Ainlay, Singleton & Swigert, 1992 apud Sommerhalder C & Goldstein LL, 2006)

Portanto, o envelhecimento é uma realidade presente na sociedade moderna. Envelhecer com saúde e manutenção da satisfação e qualidade de vida é uma meta para os que alcançam a maior longevidade. A espiritualidade está relacionada com melhor saúde física e emocional entre os idosos e ainda pode ser uma estratégia de enfrentamento adequada para os fatores de estresse peculiares ao envelhecimento, como perdas e declínio.

Enfim, envelhecer abre o caminho para o desenvolvimento de um potencial humano, para um novo contexto de aprendizagem, que pode trazer descobertas até certo ponto, facilitadas pela espiritualidade.


Referências Bibliográficas
1- Chally PS e Carlson JM. Spirituality, Rehabilitation and Aging: A Literature Review. Arch Phys Med Rehabil. 2004 Jul, v 85, suppl 3.
2- Baldessin A. O idoso: viver e morrer com dignidade. In: Netto MP (Org.). Gerontologia: A velhice e o envelhecimento em visão globalizada. 2002; São Paulo : Ateneu, p.496.
3- Cupertino AP e Novaes C. Espiritualidade e Envelhecimento Saudável. In:CALDAS, Célia Pereira (Org.) Saúde do idoso: a arte de cuidar. 2. ed, 2004, Rio de Janeiro : Interciência, 399 p.
4- Faria JB e Seidl EMF. Religiosidade, enfrentamento e bem-estar subjetivo em pessoas vivendo com HIV/AIDS. Psicologia em Estudo, Maringá. 2006 Jan/abr, 11 (1) : 155-164.
5- Frankl VE. Psicoterapia e sentido da vida. 4ed. 2003, São Paulo : Quadrante.
6- Molzahn, AE. Spirituality in Later Life: Effect on Quality of Life. J Gerontol Nurs. 2007 Jan; 33 (1) : 32-39.
7- Sommerhalder C & Goldstein LL. O Papel da Espiritualidade e da Religiosidade na vida adulta e na Velhice. In: Freitas, Py, Neri, Cançado, Gorzoni e Rocha. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2ed. 2006, Guanabara Koogan : Rio de Janeiro, p 1307-1315.