terça-feira, 18 de novembro de 2008

Redes sociais e religião no enfrentamento das dificuldades

Introdução

Nos anos 80 e 90, houve uma paulatina abertura, para a aceitação da contribuição da ações sociais conduzidas por grupos religiosos.
Percebe-se que nesse período, a religião, não se limitava mais a um único domínio – o das convicções íntimas e privadas – nem se expressava no campo da militância social e política de forma estritamente remissível às expressões institucionalizadas tradicionais (igrejas). A preocupação passa a ser, neste contexto, distanciar um pouco o foco, para captar outras modalidades de ação em prol da cidadania e, nelas, como um caso particular, o lugar da religião. Trata-se, então, de inquirir sobre o lugar da vivência ou adesão a valores religiosos nos espaços de participação cidadã, interagindo com outras fontes de motivação e orientação para a ação coletiva. (Burity, 2000)
No caso das mudanças na relação entre religião e sociedade/política, deve-se acentuar o impacto positivo que a luta pela redemocratização e o processo de transição à democracia dos anos 80 trouxe para a pluralização da agência social e política, bem como para a introdução de elementos politizadores em diversos segmentos sociais marcados pelo seu isolamento ou conservadorismo. Foi nas décadas de 70 e 80 que a redefinição das relações entre religião e sociedade/política ganhou grande visibilidade social: a igreja popular, as comunidades de base e os movimentos de bairro, a teologia da libertação, o movimento ecumênico (em alguns estados do país), o movimento de direitos humanos (cf. Doimo, 1995; Burity, 1989; 1994; Barreira, 1992; Krischke, 1979; Krischke e Mainwaring, 1986).
Estas ações são relevantes porque induzem um crescente número de experiências locais de inserção de grupos religiosos nas ações sociais de enfrentamento da pobreza, da exclusão, bem como das diversas dificuldades enfrentadas ao longo da vida (Burity, 2000).

A Religião como meio de resistência A busca da religião, enquanto meio de superação do sofrimento e de aquisição de forças para manter a vida, denota o desejo de tentar superar as desigualdades e injustiças e a busca de integralidade humana (Ogata & Furegatto, 2000:11); sendo assim, uma forma de resistência frente à realidade vivida, seja ela pessoal ou social.
É no espaço religioso que se estabelece a identidade religiosa, cultural e social, nesses espaços rituais comunitários que se restabelecem os laços de identidade e de solidariedade da comunidade (Parker, 1996). As pessoas que ali se sentem pertencentes trazem em si uma gama de relações e vínculos que vão além da amizade, do companheirismo, da solidariedade e do apoio mútuo. Elas acabam por se identificarem umas com as outras na busca de se ajudarem mutuamente. É a rede social, interferindo na superação das dificuldades, independente da natureza das mesmas.

Enfrentamento influenciado pela cultura Os eventos são interpretados pelas pessoas, de acordo com os significados que têm para si. Dessa forma, o que torna uma experiência estressante não é o evento em si, mas as avaliações que as pessoas fazem da situação. As pessoas possuem um sistema de orientação que representa uma forma geral de compreender e lidar com as situações e que, em momentos de crise, o processo de enfrentamento é fortemente influenciado por esse sistema. Deve-se levar em consideração que o enfrentamento é influenciado pela cultura já que ela pode modelar o sistema de orientação das pessoas no mundo e as estratégias de enfrentamento, que podem ser ensinadas e privilegiadas em um contexto socio-cultural em detrimento de outras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Barreira, I A F. 1992. O Reverso das Vitrines: conflitos urbanos e cultura política em construção. Rio de Janeiro, Rio Fundo
2. Burity, J A. Redes sociais e o lugar da religião no enfrentamento de situações de pobreza: um acercamento preliminar. Disponível em: http://www.clacso.org/
3. Burity, J A. 1989. Os Protestantes e a Revolução Brasileira, 1961-1964: A Conferência do Nordeste. Dissertação de mestrado em Ciência Política. Recife, Universidade Federal de Pernambuco, mimeo.
4. Doimo, A M. 1995. A Vez e a Voz do Popular: Movimentos sociais e participação política no Brasil pós-70. Rio de Janeiro/São Paulo, Relume-Dumará/ANPOCS
5. Krischke, P J. 1979. A Igreja e as Crises Políticas no Brasil. Petrópolis, Vozes.
6. ______ e Mainwaring, S (orgs.). 1986. A Igreja nas Bases em Tempo de Transição (1974-1985). Porto Alegre, L&PM. 7. Faria, J B; Seidl, E M F. Religiosidade e enfrentamento em contextos de saúde e doença: Revisão da literatura. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2005, 18(3), pp. 381-389.
8. Ogata, M N e Furegatto, A R F, 2000. Concepções de saúde e de doença de profissionais da saúde. VI Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. Anais, CD-ROM. Salvador: ABRASCO.
98. Parker, C, 1996. Religião Popular e Modernização Capitalista: Uma lógica na América Latina. Petrópolis: Editora Vozes.

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